Doces da época vão sair mais caros por via da escalada do preço dos ovos nas últimas semanas. Já o cabrito subiu 30% no final do ano passado com a doença da língua azul e não voltou a descer.
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Da carne às iguarias tradicionais da época, na hora de fazer as compras para o domingo de Páscoa vai ser necessário desembolsar mais dinheiro. O setor da panificação e da pastelaria está a braços com o preço dos ovos em máximos históricos, o cabrito disparou 30% por via da língua azul e até o negócio das flores sofreu um agravamento.
Em Ovar, já há produtores a subir o preço do pão de ló dos 20 para os 22 euros e a escalada deverá continuar com a aproximação da Páscoa. Na origem está o preço dos ovos, que disparou mais de 20% desde do início do ano, devido à gripe das aves. A doença levou ao abate de milhares de animais, afetando mercados como a vizinha Espanha ou os Estados Unidos.
“Uma caixa de ovos custava 63 euros há três semanas e, neste momento, está em 69, 94 euros. Na altura do Natal e da Páscoa temos sempre estes aumentos, mas este ano estamos a sentir mais”, explica Alda Almeida, produtora e presidente da Associação de Produtores de Pão de Ló de Ovar (APPO). Nesta altura, saem da cidade vareira milhares de pães de ló para todo o país, que têm nos ovos o seu principal ingrediente. “Quero ver se não aumento muito mais, porque também temos o revés e depois vendemos menos”, lamenta.
O cenário repete-se mais a norte, em Valpaços, com o folar da cidade. Conceição Moutinho, proprietária da Padaria Moutinho, nota que os custos de produção vão ser maiores este ano, embora o preço vá manter-se inalterado para os consumidores. “Tem influência na produção, porque vai ficar bastante mais cara. O problema é que na reunião da Feira do Folar não estava previsto este aumento dos ovos e ficou acordado que o preço se ia manter”, atesta. Até à Páscoa, a Padaria Moutinho produz, em média, mil folares por dia e as expectativas são estão altas, uma vez que as encomendas estão a chegar cada vez mais cedo. O folar custa em média 14 euros por quilo.
“O aumento dos ovos obviamente que tem influência no setor, o preço está 20% acima do ano passado”, aponta Hélder Pires, membro da Associação do Comércio e da Indústria de Panificação (ACIP). “Os produtos desta época já têm valores muito próprios que refletem um acréscimo, mas se a escalada se mantiver depois da Páscoa, vai obrigar a uma revisão nos preços”, antecipa. Ainda assim, Hélder Pires esclarece que os fornecedores ainda não relataram nenhuma rutura no abastecimento, pelo que não haverá falta de doçaria.
Para João Moreira, chefe do restaurante Erva, em Lisboa, o "preço dos ovos pode impactar diversos alimentos e produtos do dia a dia, como bolos e sobremesas". "Também será afetada a panificação, incluindo pães e pães doces, como brioche, croissants e pães de leite. Produtos como maionese e molhos à base de ovo, bem como qualquer alimento que utilize ovos, seja na massa ou no recheio — como tortas, pastéis salgados e algumas opções vegetarianas que fazem uso de ovos — também terão o seu custo elevado", refere.
Cabrito subiu 30%
Já o cabrito também está mais caro em relação ao ano passo. A doença da língua azul, que dizimou centenas de explorações de bovinos e ovinos, e provocou a morte a milhares de animais, agravou o preço desta carne em 30%, ainda antes do Natal.
A verdade é que nunca mais baixou e manteve-se estabilizado até agora. “O cabrito ronda os 20 euros por quilo e o borrego está na ordem dos 12 euros”, aponta Marianela Lourenço, da Associação dos Comerciantes de Portugal.