A ministra da Cultura, Dalila Rodrigues, lamentou, esta terça-feira, a morte da escritora Maria Teresa Horta, aos 87 anos, sublinhando a sua “voz única e corajosa” que lutou pela liberdade e os direitos das mulheres em Portugal.
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A última das “Três Marias”, autoras da obra “Novas Cartas Portuguesas” (1972), morreu hoje, em Lisboa, anunciou a editora Dom Quixote.
Numa nota enviada às redações, a ministra da Cultura manifestou “profundo pesar” pelo desaparecimento desta “figura notável” da cultura portuguesa, e recordou que Maria Teresa Horta, ao lado de Maria Isabel Barreno e Maria Velho da Costa, “desafiou o regime ditatorial e tornou-se um marco do feminismo português”.
“A sua escrita, marcada por uma voz única e corajosa, que abordou temas como a liberdade, o corpo feminino, o erotismo e a condição da mulher na sociedade portuguesa, continuará a inspirar futuras gerações de escritores e leitores, mantendo viva a luta pela igualdade e pela liberdade de expressão”, salientou a ministra da Cultura no texto.
Nascida em Lisboa em 1937, Maria Teresa Horta frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi dirigente do ABC Cine-Clube, militante ativa nos movimentos de emancipação feminina, jornalista do jornal A Capital e dirigente da revista Mulheres.
Marcelo Rebelo de Sousa recordou, numa nota publicada no site da Presidência, a obra “Novas Cartas Portugueses” (1973), de que foi coautora com Maria Velho da Costa e Maria Isabel Barreno, que lhe granjeou o lugar de única escritora viva a figurar num “livro recente sobre o cânone literário português”.
“A partir daí o nome de Maria Teresa Horta ficou associado como poucos à militância feminista, tanto no domínio político-social como no literário, bem como à polémica desassombrada e à franqueza erótica. Poeticamente, esteve ligada à contenção afirmativa da Poesia 61, que depois prolongou por outros caminhos; na ficção, uma das suas obras com mais impacto foi a biografia romanceada da Marquesa de Alorna, de quem era descendente”, recordou o chefe de Estado.
Numa mensagem que publicou na sua conta na rede social X (antigo Twitter), Pedro Nuno Santos presta sentida homenagem a Maria Teresa Horta em seu nome pessoal e do PS. Depois, o secretário-geral do PS realça que Maria Teresa Horta teve “uma vida dedicada ao jornalismo, à poesia e à ficção", e "uma militância permanente e sem tréguas pelos direitos das mulheres".
Maria Teresa Horta, que o presidente da República classificou como “uma inspiração e um exemplo”, foi agraciada com o grau de Grande-Oficial da Ordem da Liberdade em 2024.
Pedro Nunos Santos apontou em especial "a coragem inspiradora que quebrou os silêncios da ditadura e abriu caminho a quem construiu a liberdade e democracia”.
A escritora Patrícia Reis lembrou o seu papel “absolutamente incontornável” na literatura, no feminismo e no jornalismo, uma “mulher que era maior que tudo” e que fica “para sempre”.
“É uma perda imensa, porque a Maria Teresa é um dos grandes nomes da literatura portuguesa e é também alguém absolutamente incontornável no movimento feminista português e incontornável até no jornalismo, na história do jornalismo, porque é das primeiras mulheres a conseguir ocupar um lugar físico dentro da redação de um jornal na década de [19]60”, disse, em declarações à Lusa.
Claro que a Teresa é para sempre, porque a obra da Teresa está aí, está viva e estará viva enquanto nós a mantivermos viva, e eu espero que esse trabalho seja feito por todos nós leitores, pela editora, pela família, claro”.
PCP destaca resistência ao fascismo e defesa das mulheres
O PCP expressou hoje pesar, destacando a sua “intervenção de resistência ao fascismo e ativismo em defesa da emancipação da mulher”.
“Destacada mulher da cultura, escritora e poetisa, com extensa obra publicada – como Tatuagens, Cidadelas Submersas ou Nossa Senhora de Mim - e importante percurso enquanto jornalista com participação em diversos jornais e revistas, Maria Teresa Horta tem um rico e diversificado percurso de vida marcado por uma intervenção de resistência ao fascismo e de ativismo em defesa da emancipação da mulher”, lê-se numa nota do PCP.
“Maria Teresa Horta foi diretora da Revista Mulheres, publicação pioneira na reflexão audaz sobre a igualdade e emancipação das mulheres”, destaca igualmente o PCP.