Mulher de Gaia foi o cérebro de um esquema que começou com a compra da base de dados de clientes das operadoras para conseguir “clonar” cartões de crédito e esvaziar contas.
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Durante quatro anos, com uma base de dados comprada na internet, uma mulher de Gaia conseguiu enganar os serviços de atendimento ao cliente da Vodafone e da Meo, para sacar segundas vias de cartões de telemóveis de clientes que tinham contas bancárias nas instituições WiZink, Universo e Unibanco. Roubando a identidade das vítimas, conseguiu, com ajuda de familiares e de dois namorados, esvaziar as contas de dezenas de pessoas, lucrando 188 mil euros. Detida pela Polícia Judiciária do Porto e colocada em prisão preventiva, a mulher e mais oito arguidos vão ser julgados por centenas de crimes de burla, acesso ilegítimo, falsidade e dano informático, contrafação de cartão, furto, violação de correspondência e branqueamento.
De acordo com a acusação do Departamento de Investigação e Ação Penal Regional do Porto, o esquema, que se prolongou entre 2019 e 2023, passava por utilizar dados pessoais das bases de dados informáticas das operadoras telefónicas e das instituições bancárias, para depois aceder indevidamente a contas, através dos serviços de homebanking e efetuar transferências controladas pela arguida, além de compras ou pagamentos.
Na base da burla, está o facto da principal arguida, Alexandra B. de 43 anos, ter comprado, ao que tudo indica, através da internet, os dados pessoais de clientes da Vodafone e da Meo.
Depois, “a arguida pesquisava em fontes abertas, através do NIF dos clientes das operadoras, se os mesmos eram clientes WiZink, Universo ou Unibanco, selecionando como alvos do esquema criminoso aquelas pessoas que estivessem identificadas numa das suas bases de dados e simultaneamente fossem clientes dos bancos”, explica o Ministério Público.
Furtando a identidade das vítimas, Alexandra B. solicitava às operadoras telefónicas a entrega de segundas vias dos cartões, quer através da linha de apoio, quer pessoalmente em lojas, onde apresentava falsas procurações dos titulares dos cartões SIM. Criava então um “clone” do número de telemóvel do cliente da operadora, passando a ter total controlo sobre o contacto da futura vítima.
Com esse domínio, a arguida solicitava “às entidades gestoras dos cartões de crédito dos ofendidos as credenciais de acesso à conta”. Assim recebia os códigos de acesso, chamados tokens, no telemóvel que tinha associado. Quando já tinha o controlo do cartão de crédito da vítima, “realizava operações bancárias online, como pagamentos, compras e transferências para contas por si controladas”, garante o MP.
A partir de certa altura, a arguida também passou a telefonar às vítimas. Na posse dos dados pessoais dos lesados, conseguia fazer passar-se por funcionária dos bancos e levar os lesados a revelar-lhe os códigos de acessos às contas que esvaziava a seguir.
Detida e libertada continuou a esvaziar contas até ficar presa
Pouco depois do início do esquema, a PJ do Porto começou a receber as primeiras queixas e a investigação dirigiu-se para Alexandra B. que foi detida em março de 2021. Sujeita ao primeiro interrogatório, a mulher ficou proibida de se ausentar da cidade do Porto e de contactar os outros suspeitos e as testemunhas, além de ter de prestar uma caução de seis mil euros. Em liberdade, continuou a burlar os clientes da Vodafone, Meo, WiZink, Universo e Unibanco. Voltou a ser detida em dezembro de 2023. Desta vez, ficou em prisão domiciliária com pulseira eletrónica, mas incumpriu de novo as medidas de coação. Em abril do ano passado, Alexandra foi levada para a cadeia, onde permanece em prisão preventiva.