Estreia esta quinta-feira nos cinemas um dos mais belos filmes do ano: o indiano “Tudo o que imaginamos como luz”.
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O cinema indiano tem sido conotado quase em exclusivo com a sua produção, imensa, é certo, de filmes populares, normalmente melodramas entrecortados por números musicais, cuja indústria, uma das mais poderosas do mundo, se chama Bollywood, expressão que localmente é considerada pejorativa.
Felizmente, há imensas exceções, e nos últimos anos tem-se assistido à chegada de novos valores que, sem perder de forma alguma a sua raiz cultural, nos oferecem um cinema completamente distinto.
É assim quase sem surpresa, mas com imenso prazer, que se assiste a “Tudo o que imaginamos como luz” (“All we imagine as light”), exemplo de um cinema novo indiano, ainda para mais com a assinatura de uma jovem realizadora, Payal Kapadia.
Trata-se já da sua segunda longa-metragem, depois de “Noite incerta”, que tinha as virtudes e os defeitos de uma primeira obra, mas mesmo assim esteve na Quinzena dos Realizadores de Cannes, festival a que Kapadia regressou com este novo filme, valendo-lhe um mais do que merecido Grande Prémio.
Nascida em Mumbai, onde vai com regularidade, oferece-nos agora um título desde logo poético, para um relato duro, mas não desprovido de graça e encanto.
Passado na sua cidade, o filme acompanha o quotidiano de uma enfermeira num hospital de Mumbai, cujo marido está a trabalhar na Alemanha, e partilha o apartamento com uma jovem que tenta encontrar um lugar para viver a sua intimidade com o namorado.
Pervertendo as regras estritas da produção de cinema na Índia, com cenas de nudez e de sexo, e produzido com capitais maioritariamente estrangeiros, a jovem realizadora concebe um retrato muito vivo da metrópole e personagens femininas tocantes, no equilíbrio permanente entre a sobrevivência numa das cidades mais complexas do mundo e as suas próprias aspirações a serem felizes.
“Tudo o que imaginamos como luz” está nomeado para dois Globos de Ouro: melhor filme em língua não inglesa e melhor realização. A cerimónia de prémios é a 5 de janeiro.