Presidente norte-americano sugere que líder ucraniano “aja depressa ou não terá mais um país”. NATO dá garantias de apoio a Kiev.
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Numa posição sem precedentes nas relações entre Washington e Kiev, que parecem caminhar para uma rutura irreconciliável, o presidente norte-americano descreveu hoje o homólogo ucraniano como um “ditador sem eleições”, aconselhando-o a que “aja depressa ou não terá mais um país”. A declaração de Donald Trump surge depois de Volodymyr Zelensky ter rebatido a sua afirmação de que a Ucrânia era responsável pela invasão russa, considerando que o líder da Casa Branca “vive numa bolha de desinformação” russa.
“Zelensky admite que metade do dinheiro que lhe enviamos está ‘DESAPARECIDO’. Recusa-se a realizar eleições, está muito em baixo nas sondagens ucranianas e a única coisa em que era bom era em manipular Biden ‘como um violino’. Um ditador sem eleições, é melhor que Zelensky aja depressa ou não terá mais um país”, escreveu Trump na sua rede Truth Social.
O presidente norte-americano salientou ainda estar a “negociar com sucesso o fim da guerra com a Rússia”, alegando que se trata de algo que só a Adminstração Trump pode fazer, uma vez que “Biden nunca tentou” e a “Europa falhou em trazer a paz”. Trump disse mesmo que “Zelensky fez um trabalho terrível, o seu país está destruído e MILHÕES morrem desnecessariamente”.
Em declarações na noite de terça-feira, Trump havia alegado que a taxa de aprovação de Zelensky estava “nos 4%”. Uma sondagem de fevereiro do Instituto Internacional de Sociologia de Kiev refere que 57% dos ucranianos confiam no presidente, face aos 52% do mês anterior.
Zelensky, que disse nunca comentar índices de popularidade seus ou de outros líderes, sublinhou que a última sondagem refere que 57% ainda confiam nele, denunciando “muita desinformação vinda da Rússia. “Infelizmente, o presidente Trump, com todo o respeito por ele como líder de uma nação que respeitamos muito, está a viver nesta bolha de desinformação”, declarou.
O mandato de cinco anos de Zelensky na Presidência ucraniana deveria ter terminado em 2024, mas as eleições não podem ser realizadas ao abrigo da lei marcial, que a Ucrânia impôs em Fevereiro de 2022 em resposta à invasão russa.
NATO e ONU com Zelensky
Após os insultos dirigidos pelo presidente norte-americano ao homólogo ucraniano, o secretário-geral da NATO veio hoje reiterar a Zelensky o apoio inequívoco da Aliança Atlântica a Kiev. “Acabei de atualizar Volodymyr Zelensky sobre as boas impressões que troquei com Keith Kellogg [responsável do Departamento de Estado dos EUA para a Rússia e Ucrânia] na Organização do Tratado do Atlântico Norte [NATO] sobre as negociações de paz”, escreveu Mark Rutte nas redes sociais.
Também o chanceler alemão saiu em defesa do líder ucraniano. É “simplesmente errado e perigoso negar ao presidente Zelensky a sua legitimidade democrática”, reagiu Olaf Scholz, argumentando que o “facto de não se poderem realizar eleições regulares no meio de uma guerra está conforme as disposições da Constituição ucraniana e das leis eleitorais”.
Já o porta-voz do secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, reforçou a legitimidade do presidente ucraniano. “O presidente Volodymyr Zelensky tomou posse após eleições devidamente realizadas”, respondeu Stéphane Dujarric, quando questionado sobre as acusações de Trump.