Português morto a defender polícias num ataque terrorista em França era de Ermesinde
O português de 69 anos que, no sábado, foi morto à facada quando tentava defender agentes da polícia em Mulhouse, França, é Lino Sousa Loureiro, natural de Ermesinde, e estava naquele país desde 1992. Era casado e tinha um filho, já adulto, sabe o JN.
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Lino Loureiro será homenageado este domingo, às 19.30 horas (18.30 horas em Portugal continental), pelo Grupo Cultural e Folclórico dos Portugueses de Mulhouse. "Lamentamos o trágico ataque de Mulhouse que tirou a vida de um dos nossos, um corajoso compatriota português que sacrificou a sua vida para proteger os outros. O seu ato de bravura permanecerá gravado nas nossas memórias. Os nossos pensamentos estão com sua família, parentes e todas as vítimas desse ataque injusto. Nestes tempos de dor, estamos juntos para honrar a sua memória e lembrar os valores de coragem e solidariedade que nos unem", escreve a organização no Facebook.
A fotografia do português foi divulgada nas redes sociais pelo ex-eurodeputado e ex-autarca de Lisboa, João Soares. Lino Loureiro viveria a cerca de 500 metros do local onde foi assassinado, entre a Praça do Mercado e a Rua Lavoisier.
O ataque na cidade de Mulhouse aconteceu, sábado, pouco antes das 16 horas locais (15 horas em Portugal continental) durante uma manifestação de apoio à República Democrática do Congo, que enfrenta uma ofensiva, no leste, do movimento armado M23, apoiado pelo Ruanda..
A unidade nacional de procuradores antiterroristas de França (PNAT), que assumiu o comando da investigação, disse que o suspeito atacou primeiro os polícias municipais, gritando "Allahu Akbar" ("Deus é grande"). Testemunhas confirmaram, em declarações à AFP, que o suspeito gritou por diversas vezes as palavras utilizadas pelos muçulmanos como exclamação da sua fé. Um civil, que depois se soube ser o português Lino Loureiro, que passava no local e interveio, foi atacado e morreu.
Além dos dois polícias que ficaram em estado grave, mais três polícias ficaram feridos sem gravidade. Um dos polícias gravemente feridos sofreu uma lesão na artéria carótida, e o outro no tórax. "Um cidadão português de 69 anos que se encontrava no local ter-se-á interposto entre os polícias e o atacante, tendo sido esfaqueado e morto", disse a porta-voz do MNE à Lusa, acrescentando que "ficaram feridas outras cinco pessoas, incluindo os polícias [dois deles feridos graves]".
"O agressor, já conhecido pela polícia e pelos serviços de investigações, foi detido", salientou ainda o MNE, acrescentando que "a investigação foi assumida pela Procuradoria Nacional Antiterrorismo (PNAT), o que indica que se trata de um ataque terrorista de inspiração islâmica radical", e que "a embaixada continua a acompanhar o caso".
O ataque foi levado a cabo por um suspeito de 37 anos que está numa lista de vigilância para prevenção do terrorismo, disse o procurador Nicolas Heitz, em declarações à AFP. A lista, denominada FSPRT, compila dados de várias autoridades sobre indivíduos com o objetivo de prevenir a radicalização "terrorista". Foi lançado em 2015 após ataques mortais aos escritórios da revista satírica Charlie Hebdo e a um supermercado judeu.
Segundo o jornal regional "Les Dernières Nouvelles d'Alsace", o ataque ocorreu entre a Praça do Mercado e a Rua Lavoisier, onde foi detido o suspeito, um homem nascido em 1987 e expulso de França. Segundo fontes sindicais, o suspeito, nascido na Argélia, está sob supervisão judicial e prisão domiciliária.
"O horror tomou conta da nossa cidade", disse a presidente da Câmara de Mulhouse, Michele Lutz, no Facebook. O incidente estava a ser investigado como um ataque terrorista, disse, mas "isso obviamente ainda tem de ser confirmado pelo poder judicial".
O presidente francês, Emmanuel Macron, falou de um "ato de terrorismo" e "islâmico", expressando, à margem de uma visita ao Salão Agrícola de Paris, "a solidariedade de toda a Nação".
O ministro do Interior francês, Bruno Retailleau, dirigiu-se ao local do atentado no sábado à noite, numa altura em que a França continua em alerta máximo devido a ameaças extremistas. “Mais uma vez, é o terrorismo islâmico que ataca e, mais uma vez, os distúrbios migratórios estão na origem deste ataque”, afirmou o ministro no noticiário do canal TF1, referindo que "é altura de estabelecer um equilíbrio de forças".
Já a líder da extrema-direita francesa, Marine Le Pen, defendeu que este ataque é uma “recordação dramática de que a guerra contra o terrorismo não será ganha com palavras, mas com atos”. “O Estado deve dar provas de uma determinação inabalável nesta batalha vital: controlo das nossas fronteiras, perda sistemática da nacionalidade dos candidatos a jihadistas, endurecimento do nosso arsenal penal contra os crimes terroristas, expulsão dos imãs radicais, rutura das relações diplomáticas com os países que apoiam os fundamentalistas”, acrescentou.
Também a presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola, reagiu ao ataque afirmando estar “chocada” e assegurando que “a Europa está determinada na luta contra o terrorismo”. “As minhas condolências à família da vítima inocente deste trágico ataque. Desejo uma rápida recuperação aos corajosos agentes da polícia feridos no exercício das suas funções”, afirmou Roberta Metsola na rede social X.
O canal BFMTV indicou que, enquanto se aguarda a determinação das motivações para este acontecimento, a Procuradoria de Mulhouse está a trabalhar em conjunto com a Procuradoria Nacional Antiterrorista (PNAT).