"Manuela Rey is in da house" estreia esta quinta-feira no Teatro Nacional de São João, no Porto, no âmbito do (FITEIFestival Internacional de Teatro Expressão Ibérica.
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Uma mulher sai a cantar do seu encerramento numa caixa repleta de flores. A estética é impressionante e não deixa de existir um certo terror latente.
"Ela era bastante peculiar, recusava-se a usar maquilhagem em cena ou a modular a voz, o que nos fez encontrar 'críticas' que diziam que ela era fraca e, efectivamente, a sua fragilidade é sempre referida", avisa Fran Nuñez, diretor do Centro Dramático Galego. Essa característica é exacerbada pelas diferentes interpretações que fazem de Manuela Rey.
A companhia espanhola montou "Manuela Rey is in da house", a mulher de que fala Nuñez, e o espetáculo estreia esta quinta-feira no Teatro Nacional São João, integrado no cartaz do Festival Internacional de Teatro Expressão Ibérica 2024, que decorre no Grande Porto até 26 de maio.
Visualmente, a peça é muito rica, assombra, e ali convivem de mão dada os dados biográficos e os ambientes oníricos - como as cabeças de cavalo verdes das festas de San Lucas, um rap de diva sobre a vida de Manuela, ou a sua morte que cobre tudo num manto negro, sempre sobre uma banda sonora impressionante.
Salteadores da biografia perdida
Fran Nuñez embarcou nesta expedição de arqueologia teatral à procura da biografia de Manuela Rey. É uma figura especial: a galega nasceu em Mondoñedo, mas acabou por se tornar atriz profissional em Portugal.
Mulher-lírio é a designação poética para esta jovem tísica, cuja carreira foi cessada pela morte precoce em 1866. Tinha 23 anos e 1000 fantasmas dentro, advindos dos personagens que interpretou.
O escritor Alberto Pimentel recorda a atriz no livro da sua passagem pelo Teatro São João: “Um querubim de asas brancas e cabelo loiro”.
Para o apoio histórico foi convidada Paula Ballesteros, uma arqueóloga e antropóloga que acaba por dar uma conferência em que vai revelando factos sobre a vida desta mulher. Importante depoimento de época com estilhaços semióticos impactantes.
Defender a herança cultural
O Centro Dramático Galego (CDG) é uma instituição de renome na cena teatral galega, destacando-se pela sua contribuição para a promoção e preservação da cultura teatral na Galiza. Fundado em 1984, tem desempenhado um papel crucial na revitalização e no desenvolvimento das artes cénicas na região, tanto a nível nacional como internacional.
Com uma abordagem inovadora e uma dedicação apaixonada às artes, o Centro Dramático Galego tem sido pioneiro na produção de espetáculos que refletem a rica herança cultural e linguística da Galiza. Através de uma combinação de teatro contemporâneo e tradicional, o CDG tem conseguido cativar audiências de todas as idades e origens, promovendo um diálogo intercultural e enriquecendo o panorama teatral galego.
"Manuela Rey is in da house" está em cena esta quinta-feira, às 19 horas, e depois na sexta, às 21 horas, no Teatro São João, no Porto, em duas únicas récitas.