Angariação de fundos quer ajudar casal que perdeu casa por dívidas da filha assassinada
A família de Rute Santos, 45 anos, e de Maria Justo, 17 anos, assassinadas no dia 30 de janeiro, em Sesimbra, conseguiu angariar, até esta sexta-feira, 30 mil euros dos 165 mil euros estabelecidos como meta. Com esse dinheiro, querem comprar a casa dos pais de Rute, penhorada por serem fiadores da filha.
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Nélson Santos, irmão de Rute, conta ao JN que conseguiram reunir entre familiares mais de oito mil euros, e que os restantes 22 mil euros foram angariados através de donativos transferidos para a conta bancária, cujo IBAN é PT50 0033 0000 0109 1888 5957 0, ou através da plataforma de gofundme .
Acarinhados pela comunidade de Sesimbra, por terem trabalhado na Escola C + S de Santana, Rosa e Aristides Santos, de 71 e 74 anos, estão a ser apoiados por diversas pessoas, que se estão a mobilizar para angariar fundos, para impedir que o casal seja despejado. Amanhã, dia em que Rosa completa 72 anos, as receitas do VI Carnaval do Nativo, na Aldeia do Meco, revertem para esta causa.
O mesmo sucede com o valor angariado no Jogo de Futebol Solidário, marcado para o dia 8 de março, em Sesimbra, em que participarão ex-jogadores de futebol, atores e cantores. A totalidade das entradas, da venda de rifas e do sorteio de t-shirts autografadas revertem a favor do casal Rosa e Aristides Santos.
Está ainda a ser planeado um concerto do coro Cant’Arte, de Torres Vedras, do qual faz parte Sara Jofre, mulher de Nélson Santos e uma das grandes impulsionadoras da recolha de fundos. “Foram as primeiras senhoras a mobilizar-se”, recorda o filho do casal. “Há um mobilização muito grande em Sesimbra”, garante.
Tudo começou com a colocação de um mealheiro na superfície comercial onde os pais fazem as compras e, neste momento, há cerca de 25 mealheiros em várias lojas da cidade. “Não vou ter tempo suficiente para agradecer a todas as pessoas”, afirma Nélson Santos. Até ao momento, receberam 517 dádivas. “O primeiro grande donativo foi de colegas da minha mãe, que quase pagaram o funeral.”
Dívidas de 250 mil euros
Como Nélson Santos relatou ao JN, após se separar do primeiro companheiro e pai da filha mais velha, Rute foi viver com os pais. “Como saíram de casa, sugerimos que a entregasse ao banco ou a pusesse à venda, porque não estava a ser utilizada”, recorda. “Mas ela dizia sempre que estava a tratar do assunto, até que deixou de falar nisso, o que nos levou a pensar que estava resolvido.”
Só quando Nélson Santos pegou na pasta dos documentos dos pais é que percebeu a gravidade da situação. “Encontrei duas cartas dos agentes de execução com ameaça de penhora da casa deles”, relata. Soube depois que a irmã tinha acumulado dívidas de cerca de 250 mil euros, que levaram o banco vender a sua casa, para recuperar o crédito, e a pôr à venda a habitação dos pais.
Veio ainda a descobrir que a irmã tinha “pilhas de cartas” do banco e dívidas também às Finanças, por não pagar o IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis). “Entrou em negação”, observa Nélson Santos. “Os meus pais passaram a vida toda a trabalhar para terem uma casa, que acabaram de pagar pouco antes da reforma, e tinham imenso orgulho nisso”, assegura.
Esta segunda-feira, Nélson Santos foi à imobiliária onde a casa dos pais está à venda assinar o contrato promessa compra e venda, e deixar 16 500 euros de sinal, proveniente das dádivas. “Ganhei quatro meses para pagar os 148 500 em falta. Até lá, posso fazer reforços de entrada, e ir ganhando mais tempo”, acredita. O objetivo da família é que Rosa e "Tides", como é conhecido na comunidade, possam viver o resto da vida com a tranquilidade possível, após este pesadelo.
Homicida deixou de dormir
José Januário, 43 anos, namorou 14 anos com Rute, com quem vivia e com a enteada Maria, até 30 de janeiro, dia em que as assassinou à facada, suicidando-se de seguida. “Mudou de personalidade, nos últimos dois anos”, conta Nélson Santos. “Recusava-se a aceitar que tinha um problema, não dormia, nem tomava a medicação, e perdeu 20 kg em meses”, garante. “Queixava-se de dores no corpo e de stresse no trabalho, e começou a reagir mal quando alguém lhe dizia alguma coisa, quando antes era super-calmo.”
Nélson Santos atribui o comportamento violento do cunhado a um surto psicótico. Apesar de ainda não ter tido acesso ao auto da polícia, apurou que José desferiu várias golpes com uma faca na enteada, que o “adorava”, e uma facada no coração de Rute Santos. Confirma ainda que a sobrinha estava a jogar online com amigos e com o filho de José, de 17 anos, que se apercebeu que algo não estava bem, e ligou ao tio paterno.