O relatório do incidente deste domingo, em que um agente da PSP espancou, depois do V. Guimarães-Benfica, José Magalhães e o seu pai à frente de dois familiares menores já foi elaborado pela PSP mas "é mentira", afirmam as pessoas que presenciaram o incidente.
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O JN teve acesso a parte do relatório, que tenta justificar a agressão com o facto de José Magalhães ter cuspido e injuriado o agente que, depois, lhe bateu. Ora, a testemunha Marta Santos Silva, que estava a dois metros da cena, garante ter presenciado tudo e não se conforma com a versão: "Desminto categoricamente! É mentira. Eu quando soube até fervi, nem quero acreditar que possam alegar isso".
Marta Silva, advogada de profissão, foi a pessoa que deu água ao filho mais novo de José Magalhães quando este se estava a sentir mal na sequência de ter estado quase uma hora encurralado na bancada Norte do Estádio. Garante que falou com o subcomissário Filipe Magalhães Silva, identificado nas fotos como o principal agressor, e ele "não estava cuspido". Para além disso, acrescenta, ouviu o diálogo entre José Magalhães e o subcomissário onde "não houve insultos nem houve quem alteasse a voz".
O relatório foi escrito pelo próprio subcomissário Silva, chefe da Brigada de Investigação Criminal da PSP de Guimarães, e refere que José Magalhães tirou proveito do facto de estar a ser filmado. Fala ainda em resistência de José Magalhães e do pai à detenção.
José Magalhães, ao JN, negou a versão da PSP. E, à porta do tribunal de Guimarães onde hoje foi ouvido, a sua advogada, Sónia Carneiro, revelou que "naturalmente" o agente da PSP que agrediu o homem de 42 anos vai ser alvo de uma participação: "As imagens são absolutamente esclarecedoras daquilo que aconteceu, da sequência dos factos e as lesões que ele tem são visíveis. Obviamente que vai haver uma queixa contra este agente".
"Estou muito contente que existam muitas televisões hoje em dia para nós percebermos como é que um auto pode ser manipulado da forma mais chocante", disse a causídica.
José Magalhães é arguido pela suposta prática dos crimes de injúria e ameaça agravada, mas voltou a reiterar que a versão apresentada pelo agente da PSP é completamente falsa.
A queixa não vai ser apresentada contra a instituição PSP, esclarece a advogada, até porque "houve agentes que, ali, tiveram uma atuação extraordinária". Vai ser, antes, contra o subcomissário Filipe Silva. José Magalhães, a vítima, reside em Matosinhos e é agente imobiliário. Já o subcomissário presta serviço na PSP de Guimarães, onde é comandante da esquadra de investigação criminal. Já prestou serviço em Lisboa e comandou a esquadra de Rio Mouro.
A Polícia de Segurança Pública decidiu um processo disciplinar. Em comunicado, a direção nacional da PSP explica que "no final do [Vitória de Guimarães - Benfica], nas imediações do estádio, ocorreu uma intervenção policial que resultou na detenção de um cidadão. Após o visionamento das imagens (...), a PSP decidiu instaurar procedimento disciplinar contra o elemento policial que consumou a detenção".
Entretanto, o Ministério Público determinou a abertura de um inquérito de investigação criminal.