O ex-árbitro de futebol Marco Ferreira acusou, em entrevista ao periódico espanhol "AS", o presidente do Conselho de Arbitragem de só lhe telefonar antes dos jogos com o Benfica e para lhe dizer para "ter cuidado".
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Marco Ferreira foi despromovido ao segundo escalão da arbitragem depois de, na época 2014/2015, ter apitado a final da Taça de Portugal. A sua despromoção foi envolta em polémica e o ex-árbitro decidiu abandonar a arbitragem.
Hoje, escolheu um jornal espanhol para denunciar que Vítor Pereira só lhe telefonava quando ia apitar os jogos do Benfica, e garante que faz o mesmo aos restantes árbitros.
"Numa semana em que eu tinha um jogo do Benfica, ele telefonava a dizer que tinha que ter cuidado, que o jogo tinha que correr bem. E só o fazia antes de jogos do Benfica. Nunca me telefonou antes de um jogo do F.C. Porto, por exemplo. Não só a mim, mas a muitos companheiros...", relatou.
Segundo o que contou ao "As", Marco Ferreira e os colegas recebiam "chamadas na mesma semana em que estávamos nomeados para arbitrar o Benfica. Vítor Pereira tem muitos inimigos e opositores, entre eles as pessoas do próprio Conselho de Arbitragem e muitos clubes da I Liga. Não o querem lá. Então, o único clube dos grandes que apoia Vítor Pereira é o Benfica", contou.
"Não vou dizer que o Benfica pede ao Vítor Pereira que fale com os árbitros para favorecer o clube. Não digo isso. O que digo é que ele faz isso porque sabe que o Benfica é o único clube que o apoia. Por isso, não quer que nenhum árbitro que não goste do Benfica apite os seus jogos. O Benfica nunca falou comigo e nunca pediu para os favorecer. Mas Vítor Pereira sim", esclareceu.
O ex-árbitro contou também uma conversa que terá tido com Vítor Pereira, que aliás já tinha referido em julho, em declarações à RTP. "Nomeou-me para um Rio Ave-Benfica. Nessa semana ligou-me duas vezes, quarta e quinta-feira. Na quinta-feira disse-me que tinha que fazer um bom jogo, se não não me nomeava para o Benfica-F.C. Porto, que era em abril. Disse que eu tinha que ter cuidado, pois 'eram os que se queixavam' e 'era o jogo do título para o Benfica'. Eu disse que não, que não era o jogo do título para o Benfica porque levava quatro pontos de vantagem, com respeito ao F.C. Porto. E ele contestou-me: 'É muito diferente jogar contra o F.C. Porto em abril com uma diferença de quatro pontos e com uma de dois ou um.' Isto, do meu ponto de vista, é grave, porque estava claramente a referir-se ao Benfica".
Medo dos árbitros pela carreira
Marco Ferreira garante que já fez, "na semana passada", uma denúncia "à Federação e ao Comité Disciplinar da Liga Portuguesa", feita "na semana passada".
E garante que os seus ex-colegas " têm medo que Vítor Pereira acabe com as suas carreiras como acabou com a minha. Sou um exemplo para eles daquilo que se pode passar. Eu era árbitro internacional e nunca na história de Portugal um árbitro internacional tinha descido à segunda categoria", lembrou.
O madeirense reiterou que nunca o Benfica o contactou a pedir alguma coisa, "nunca!", disse, acrescentando que nunca recebeu nenhuma oferta de clubes. "Fui árbitro de I Liga durante nove anos e nunca o Benfica, nem sequer nenhum outro clube, algo vez me ofereceu algo para o beneficiar. Eu penso que esta é uma iniciativa do próprio Vítor Pereira com o interesse de agradar ao único clube que o apoia", apontou.
Não ligar ao ruído do banco benfiquista
Marco Ferreira deu ainda mais um exemplo para demonstrar a pressão que disse sentir quando ia dirigir jogos do Benfica. Segundo o ex-árbitro, Vítor Pereira ter-lhe-á pedido, antes do Braga-Benfica, para não "fazer caso do ruído que viesse do banco" encarnado, isto porque "Pereira tinha medo que mostrasse outra vez o cartao vermelho" a Jorge Jesus. Num jogo anterior, o Boavista-Benfica, Marco Ferreira tinha expulsado o treinador do Benfica.