Maria da Glória Moreira, de 76 anos, regressava segunda-feira a casa, no Porto, para o 10.º aniversário do neto Miguel. O atentado de sexta-feira na Tunísia roubou-lhe a vida, na mesma praia onde costumava fazer férias com o marido, falecido há dois anos.
Corpo do artigo
Professora de piano reformada, que vivia na Foz, foi a única portuguesa identificada entre as vítimas mortais. E é a primeira portuguesa a ser assassinada pelo grupo extremista Estado Islâmico.
Ao JN, o genro Luís Beires Fernandes contou que Maria da Glória viajou, durante muitos anos, com o marido para a zona de Sousse, uma das principais regiões turísticas da Tunísia. Na praia do hotel Riu Imperial Marhaba, foram mortas 38 pessoas, sobretudo turistas britânicos, e depois foi abatido o atacante.
"Tinha recuperado a alegria de viver e a energia, estava rejuvenescida", recordou, explicando que, após dois anos muito difíceis devido à morte do marido, Maria da Glória ganhou coragem para voltar sozinha ao destino onde foram felizes e onde se "sentia muito confortável", apesar de, nos anos "mais quentes" do terrorismo, terem evitado aquela zona.
Iam de férias para o Algarve
No Porto, Maria da Glória também vivia sozinha. A filha Mariana, tradutora de 47 anos, foi para o Brasil com Luís Beires Fernandes, empresário de 38 anos. Primeiro S. Paulo e depois Florianópolis. O contacto com a mãe era diário. Sempre que podiam, visitavam-na e o contrário também sucedia.
A filha, o genro e o neto Miguel estão de férias em Portugal até fim de julho e planeavam ir com Maria da Glória para o Algarve. Segunda-feira, uma semana após ter chegado à Tunísia, já estaria de volta para poder comemorar o aniversário do neto, contou ao JN Luís Fernandes.
Maria da Glória fazia longas estadias no Brasil, mas "sentia falta da casa dela" e acabava por voltar ao Porto, onde foi professora de piano do Conservatório de Música. Deu também aulas em Gaia.
Desde anteontem que estava incontactável. Na segunda-feira passada, tinham conversado, e "tudo estava bem", e na quarta já tinha até feito "alguns amigos" em Sousse.
Sábado de manhã, chegou a pior notícia possível. Foi identificada como uma das vítimas mortais do ataque levado a cabo por um estudante tunisino que entrou pela praia com uma metralhadora escondida num guarda-sol.
A portuguesa foi levada para um hospital de Tunes, onde um responsável da Embaixada lusa acompanhou a autópsia. O genro esperava poder viajar, ainda este domingo, para a Tunísia de forma a levar amostras de ADN e possibilitar a trasladação do corpo o mais rapidamente possível.
José Cesário, secretário de Estado das Comunidades, confirmou ao JN que os restantes turistas portugueses em Sousse já haviam sido contactados e que não havia mais vítimas, pelo menos entre aqueles que fazem férias em grupo ou através de operadoras, ressalvou. Maria da Glória era a única portuguesa alojada naquele hotel.