O secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, diz que as conclusões da cimeira da zona euro estão a ser apresentadas de "forma cínica" porque o "elogio" a Portugal não passa de "um incentivo" para a adopção de mais austeridade.
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"É preciso ler tudo o que foi dito [na cimeira]. Essa interpretação de elogio não passa de um incentivo ao Governo português para continuar a aplicar a austeridade, porque além de mencionarem o elogio, [os líderes europeus] acrescentam já que Portugal e o Governo se deve preparar para outros planos de austeridade se for necessário", disse hoje Carvalho da Silva aos jornalistas no final de uma reunião com a direcção do PCP em Lisboa.
Os líderes europeus e da zona euro chegaram esta madrugada, ao fim de uma maratona negocial de quase dez horas, a um novo plano para reduzir a dívida grega e atribuir a Atenas um novo plano de resgate, prevendo que a banca aceite perdas de 50 por cento nos investimentos na dívida soberana da Grécia.
A declaração final da cimeira elogiou também o esforço de Portugal e da Irlanda no cumprimento dos programas de ajustamento ao abrigo da ajuda externa, e "convida os dois países a manter os seus esforços, a manterem-se comprometidos com as metas acordadas e estarem dispostos a tomar quaisquer medidas adicionais necessárias para atingir essas metas".
Para o líder da maior central sindical nacional, "o que está a ser preparado para o povo - e basta ver algumas das projecções macroeconómicas que estão a suportar o Orçamento do Estado e que estão manipuladas - é uma continuação de sacrifícios e isto não conduz a lado nenhum".
Segundo Carvalho da Silva, foi "o apelo ao povo português para responder" a estas políticas que esteve na agenda do encontro que manteve hoje com o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, e que se inseriu num "conjunto de encontros" que a CGTP está a realizar com diversos partidos.
Nestas reuniões, a CGTP tem manifestado as suas "grandes preocupações com o rumo que o país está a seguir e que se vê confirmado a cada dia de forma preocupante", segundo as palavras de Carvalho da Silva, que disse que apresentou ainda ao PCP "as causas que levam os trabalhadores à sua luta e à realização de uma greve geral" a 24 de Novembro.
Questionado sobre o apelo ao diálogo entre forças políticas e parceiros sociais feito pelo Conselho de Estado na terça-feira, Carvalho da Silva respondeu que "o problema é o enquadramento que colocam para o diálogo".
O secretário-geral da CGTP, diz que "todo o diálogo é útil, mas querem este diálogo debaixo da execução de um conjunto de políticas em que, como diz o povo, não bate a bota com a perdigota", ou seja, aplicam-se medidas de austeridade esperando ao mesmo tempo que haja crescimento económico.
Porém, afirma, "uma coisa inviabiliza a outra".
"É uma espécie de exercício de diálogo debaixo da quadratura do círculo. Pode ser que descubra em Portugal como se faz mas até agora não foi fácil", afirmou.