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Há 48 horas fechado, Adriano já só quer sair do navio mas "os hospitais estão lotados"

Adriano Maranhão Facebook

Adriano Maranhão, 41 anos, canalizador no cruzeiro que está atracado num porto japonês desde o início de fevereiro e, até ao momento, o único português diagnosticado com o novo coronavírus, ainda não sabe quando é que vai receber tratamento.

Já é noite no Japão, quando Adriano fala connosco. Ele sabe-o porque viu as horas, não tem outra forma de saber: "Não consigo ver o dia nem a noite". Infetado com o Covid-19, Adriano está há 48 horas numa cabine, onde ninguém entra e de onde ninguém sai. Não vê a hora de sair, mas ainda não sabe quando é que poderá. Como não tem sintomas - além do corpo cansado, que atribui ao stress criado pelo facto de ter sido contaminado por uma "doença nova" - o seu caso não é urgente. "A embaixada portuguesa em Tóquio disse-me esta manhã que os hospitais estão lotados e que devo sair daqui na segunda ou na terça-feira. Mas não foi certo. Parece-me que pode esticar mais um dia ou dois", conta ao JN.

Mesmo face à falta de lugares nos hospitais de referência japoneses, a hipótese de Adriano vir ser tratado em Portugal estará fora de planos (os europeus que regressaram a casa em aviões fretados por países da União Europeus não estavam infetados). O JN contactou o ministério dos Negócios Estrangeiros para saber que diligências estão a ser feitas no sentido de retirar o português do navio o mais rápido possível, mas ainda não obteve resposta.

O "Diamond Princess", onde Adriano trabalha há cinco anos como canalizador, foi colocado sob quarentena pelo governo japonês a 5 de fevereiro. Na altura, acolhia cerca de 3700 pessoas, das quais mais de 600 terão sido infetadas. Desde quarta-feira passada, quando começaram a ser desembarcados os passageiros cujas análises de diagnóstico tinham dado negativo, já saíram 970. A bordo, estão ainda cerca de mil tripulantes, entre os quais Adriano e mais quatro portugueses, que a Direção-Geral da Saúde já confirmou não estarem infetados com o Covid-19, o que não garante que não venham a estar - levantaram-se questões sobre o rigor das medidas de proteção depois de 23 passageiros terem sido autorizados a sair sem serem devidamente analisados (um deles foi diagnosticado três dias depois).

Foi precisamente a camaradagem portuguesa, com quem fala diariamente por Facebook, que safou Adriano quando se cansou de comer as bolachas que tinha na cabine. O colega e amigo Sérgio, com quem além da pátria divide também a terra da Nazaré, preparou-lhe um tabuleiro com comida. "A empresa só me deixou um tabuleiro à porta depois de eu ter falado ao Sr. Presidente da República, que falou com a embaixada sobre o problema da comida. Mais tarde, disseram-me que não me tinham vindo dar alimentos porque não tinham a informação de que eu estava em isolamento", relata, apontando falhas à forma como o surto está a ser gerido, sobretudo no que diz respeito à tripulação. "O tripulante é um número aqui dentro, não interessa se é bom ou mau, se for embora vem outro", aponta Adriano, que tem tentado contactar a norte-americana Princess Cruises, para obter respostas, mas ninguém atende e ninguém responde aos e-mails.