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ONU declara fome em Gaza "catastrófica" e "inteiramente provocada pelo homem"

População de Gaza enfrenta fome e grave crise humanitária Foto: AFP

A ONU declarou oficialmente a fome na cidade de Gaza, a primeira a atingir o Médio Oriente. Há 500 mil habitantes de Gaza que enfrentam fome "catastrófica", segundo especialistas. Israel critica relatório: "é falso".

A fome em Gaza é "inteiramente provocada pelo homem", de acordo com o Quadro Integrado de Classificação da Segurança Alimentar (IPC, sigla em inglês), um organismo da ONU com sede em Roma, acrescentando que pode ser "parada e revertida".

Segundo um relatório divulgado esta sexta-feira, o IPC elevou a fome em Gaza para a Fase 5, o nível mais alto e pior da sua escala de insegurança alimentar aguda.

"O tempo para debates e hesitações já passou, a fome está presente e está a espalhar-se rapidamente", acrescenta o relatório.

O IPC é o principal mecanismo que a comunidade internacional utiliza para concluir se está a ocorrer fome. No seu relatório de 59 páginas, afirma que "não deve haver dúvidas na mente de ninguém de que é necessária uma resposta imediata e em grande escala".

"Qualquer atraso adicional - mesmo que seja de apenas alguns dias - resultará num aumento totalmente inaceitável da mortalidade relacionada com a fome", acrescenta.

O relatório refere que a fome está confirmada na província de Gaza, que inclui a cidade de Gaza e arredores, com "condições catastróficas" previstas para se expandirem para Deir al-Balah e Khan Younis até ao final de setembro.

A fome em Gaza "podia ter sido evitada" sem "a obstrução sistemática de Israel", acusou em Genebra o responsável pela coordenação dos assuntos humanitários das Nações Unidas, Tom Fletcher. "Esta fome vai e deve assombrar-nos a todos", insistiu.

Israel critica relatório: "é falso"

Israel "rejeita veementemente" as conclusões do relatório do IPC, "especificamente a alegação de fome na cidade de Gaza". "Não há fome em Gaza", reitera o ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel em comunicado.

O órgão militar israelita responsável pela ajuda humanitária (Cogat) afirma que "o relatório é falso e baseia-se em dados parciais e tendenciosos e em informações superficiais provenientes do Hamas, uma organização terrorista".

Acrecescenta que a avaliação do IPC é parcial e que ignora os "extensos esforços humanitários realizados em Gaza".

O IPC refuta as acusações de Israel de que reduziu os seus limites normais para a fome neste relatório. E explica que há diferentes formas de avaliar a desnutrição em crianças com menos de cinco anos, dependendo das evidências disponíveis. Um limite de 30% é usado quando é realizada uma avaliação com base no peso e na altura, mas que essa medida não está disponível em Gaza neste momento.

Na sua ausência, é usada uma medida separada da circunferência dos braços das crianças - que tem um limite que declara fome quando 15% das crianças têm braços abaixo de um determinado tamanho.

O IPC afirma que este padrão tem sido utilizado há mais de uma década e foi recentemente utilizado para avaliar a fome no Sudão.

Grupos humanitários têm denunciado que as restrições impostas por Israel à entrada de alimentos e outros tipos de ajuda em Gaza, bem como a ofensiva militar, estavam a causar altos níveis de fome entre os civis palestinianos, especialmente crianças.

A declaração do IPC, que confirma pela primeira vez uma situação de fome no Médio Oriente, vai certamente aumentar a pressão internacional sobre Israel, referiu a agência de notícias norte-americana Associated Press (AP).

Israel, que está envolvido numa guerra com o Hamas desde que sofreu um ataque em 7 de outubro de 2023, anunciou que planeia tomar a cidade de Gaza e outros bastiões do grupo extremista palestiniano.

Os especialistas consideraram que a intensificação da guerra vai agravar a crise alimentar.

JN/Agências