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Absurda Art Fest: os jovens que transformaram um desafio num festival alternativo

O Absurda Art Fest agita Arcos de Valdevez dias 29 e 30 de agosto, com música e diversas artes. Foto: DR

O último fim de semana de agosto é sinónimo de juventude em Arcos de Valdevez. A 29 e 30 de agosto, o Absurda Art Fest preenche os Jardins dos Centenários, oferecendo um cartaz musical com artistas emergentes, atividades criativas e instalações artísticas, num projeto que celebra a sua quarta edição, mas que começou como um desafio

Combinando com a peculiar designação do festival, o Coletivo Absurda - conjunto de jovens responsáveis pelo evento - surgiu de um projeto europeu e de uma vontade conjunta de dinamizar a cultura nas regiões periféricas. Aquele que começou como um desafio tornou-se rapidamente um dos principais festivais de juventude de Arcos de Valdevez.

Guilherme Baptista, membro do Coletivo Absurda, recorda os primeiros esboços do festival. "Num dos projetos europeus fomos desafiados a criar dinâmicas artísticas em zonas periféricas", lembra, com um sorriso no rosto. "Apesar de ter sido uma espécie de ano zero e, por isso, um pouco em cima do joelho, correu bem e ficamos com o bichinho."

Conheceram-se na Associação Juventude Vila Fonche e foi a partir da participação em várias edições do projeto Peripheral Youth Makers, inserido no programa Erasmus +, que formaram o grupo atualmente conhecido por Coletiva Absurda. Foi também no seio da associação que a iniciativa começou a ganhar asas, tendo os dias rapidamente definidos.

(Da esq. para a dir). Margarida Seco, José Santos, Miguel Sá, Catarina da Silva, Cláudio Santos, Duarte Simões, Gabriela Falcão, Guilherme Baptista, Sara Ferreira.

De facto, a data para a realização do evento foi um dos primeiros pontos a discutir. Para que não colidisse com outros festivais, "optou-se pelo último fim de semana de agosto, assim dedicado à juventude do município", refere Emília Cerdeira, vereadora da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez e responsável pelo pelouro da Juventude.

Foram, contudo, as pequenas iniciativas artísticas, realizadas antes da primeira edição do festival, que os uniram enquanto grupo.

Corria o ano de 2022. O atual festival era ainda uma miragem quando começaram a organizar projetos culturais e artísticos de pequena dimensão, como um concerto em Ponte da Barca - em fevereiro - e a pintura de um mural na Pousadinha da Associação Juventude Vila Fonche.

Foi também nesse verão que o festival Absurda Art Fest comemorou o seu primeiro ano, "num ambiente mais caseiro e rústico", rememora Guilherme. Volvidos três anos, e numa dinâmica crescente, o evento continua a prezar esse sentimento de comunidade e familiaridade.

A designação Absurda Art Fest provém de uma história com pouca história. "Aconteceu na fase chata de dar nomes às coisas, neste caso, ao nosso projeto. A Catarina (membro do coletivo) estava a ler um livro relacionado com o nome que demos, e foi um pouco tentativa-erro", revela Guilherme Batista, complementando que "a palavra absurdo foi consensual e deu o nome ao projeto."

As edições sucedem-se, os membros do Coletiva Absurda acabaram já o seu percurso académico e encontram-se no mercado de trabalho, e a adesão ao festival é cada vez maior. Às expectativas somam-se algumas dificuldades, suprimidas pelos esforços do grupo e por soluções criativas. É o caso da chamada de voluntários realizada nas redes sociais do festival que, à data de 23 de agosto, já contava com 18 respostas.

Apesar de não ter sido expectável pelo grupo, o número de voluntários inscritos revela uma crescente difusão do festival. "Normalmente costumamos ligar a amigos para nos ajudarem pontualmente, e este ano não sei se vai ser necessário" revela o membro do coletivo, acrescentando que "a mãozinha" oferecida pelos voluntários mais novos "é algo bonito de se ver".

A família e amigos também oferecem apoio sempre que se revela necessário. "Tivemos sorte por estarmos rodeadas de pessoas interessadas neste tipo de iniciativas", admite Guilherme. Exemplo disso é a carrinha utilizada pelo grupo, pertencente ao pai de um dos membros. As questões logísticas, como a preparação de refeições, costumam ser um dos principais focos de apoio.

Um festival em ascensão

São cada vez mais os que aderem ao festival, segundo constata o Coletivo Absurda e a Câmara Municipal de Arcos de Valdevez. Para além dos visitantes das zonas circundantes, como Ponte da Barca e Ponte de Lima, há cada vez mais festivaleiros de outras zonas do país, o que aumenta as expectativas e, por consequência, o nível de exigência.

"Há uma tendência de aderência muito positiva, não só de pessoas do município como visitantes de outros pontos do país, que vêm de propósito ao festival", verifica Emília Cerdeira, demonstrando o peso cada vez mais significativo do evento na agenda cultural do município.

Por se realizar em pleno centro histórico, o festival permite reavivar o protagonismo do Jardim dos Centenários, menos preponderante pela atual dispersão de festas pelos vários pontos da vila. "É uma oportunidade da juventude se conectar novamente com os jardins", enfatiza a vereadora.

A responsável pelo pelouro da juventude salienta ainda o impacto desta iniciativa na agenda cultural global. "Apesar de termos uma agenda cultural vasta, em termos de juventude não tínhamos grande oferta e este festival responde a esta questão", assegura.

Apoios do município são fundamentais

Não obstante a popularidade que o festival vai adquirindo, os apoios financeiros continuam a ser fornecidos por fonte externa, como o caso da Câmara Municipal de Arcos de Valdevez, principal colaboradora do evento. "Sem esse investimento a iniciativa não seria possível, não teríamos meios ou recursos para fazer algo desta dimensão", revela o jovem.

Contam ainda com apoio de patrocínios, crescentes nas sucessivas edições, merch local e faturação do bar.

Analisando o panorama nacional, Guilherme Batista salienta uma evidente falta de apoios, principalmente para eventos culturais alternativos, que se afastam da cultura predominante. Apesar desta realidade, o Coletivo Absurda tenta manter o festival acessível para todos. "Sempre que não incorra riscos para nós, tentamos que a entrada no evento seja gratuita", afirma.

Emília Cerdeira é da mesma opinião de Guilherme, vendo, contudo, nessa falta de investimento nacional uma oportunidade para os municípios incentivarem iniciativas e propostas como as que originaram o festival. "Estas iniciativas permitem valorizar os jovens de regiões mais periféricas, para que possam ter as mesmas oportunidades que outros jovens de regiões mais centralizadas".

Programação do festival

O Absurda Art Fest realiza-se a 29 e 30 de agosto, no Jardim dos Centenários, em Arcos de Valdevez. A par de um cartaz alternativo, com nomes emergentes da música nacional e internacional, o evento conta ainda com uma exposição artística, uma zona com tatuadores e atividades criativas e de aprendizagem.

A presente edição conta com uma novidade para os festivaleiros: uma zona de campismo a ter lugar no pavilhão municipal da vila. Sob a designação "Campismo sem Espiãs", o espaço permite acampar dentro de portas, oferecendo casas de banho equipadas, acesso à zona de alimentação, pontos de luz facilitados e estacionamento gratuito.

O Pavilhão Municipal de Arcos de Valdevez situa-se a 10 minutos do Jardim dos Centenários, onde o festival tem lugar, e fica próximo de transportes e serviços.

O cartaz musical apresenta artistas nacionais e internacionais em ascensão. À semelhança do ano passado, em que o festival serviu de cenário à atuação da banda NAPA, a programação pretende dar palco à música portuguesa e a artistas independentes.

As atuações são estreadas com Bonança, artista português de Massamá, seguido por Emmy Curl, premiada pelo Prémio José Afonso pelo seu álbum "Pastoral". Sábado a programação musical é mais vasta, com o concerto de Ganso e a apresentação do seu novo álbum "Vice-Versa". Junta-se o rock de garagem da banda portuense Fugly, o indie dos portugueses Bombazine e a música de inspirações múltiplas do grupo Gondhawa.

A instalação artística "Onde Conseguimos Dormir" de Catarina Louro e Gil Ferrão está presente em ambos dias do festival. Com performance de Bernardo Reis, e numa experiência interativa, o projeto questiona "os preconceitos positivos e negativos que temos em torno dos objetos e materiais que nos fazem sentir «em casa»", lê-se em comunicado.

A Feira Absurda, com mostra de projetos, artigos em segunda mão, marcas de roupa, joalharia e outras atividades rodeia o Jardim dos Centenários. Estão ainda presentes três tatuadores de serviço - Hugo Damn, Sara Caldas e Cesia Aduviri.

A programação conta ainda com atividades como o "Caderno Absurdo", uma caminhada criativa e sensorial pela vila, guiada por Julieta Gomes, fundadora do espaço Pluralma. Após o percurso, as sensações experimentadas são transformadas em produtos artísticos.

A aprendizagem também tem espaço no festival, com um Workshop de Dança do Vira Minhoto, da responsabilidade de grupos de rancho folclórico locais.

A entrada no festival é gratuita.

A programação e o formulário de inscrição no parque de campismo estão disponíveis na página de Instagram @absurda_jvf

Luciana Matos