O Consultório Sexualidade por Mafalda Cruz, radioncologista e sexóloga.
Tenho 48 anos e nos últimos meses notei menos vontade de ter relações sexuais. É normal um homem perder o desejo? E porque é que acontece?
Pedro Tavares
Sim, é relativamente comum, embora ainda pouco falado. A diminuição do desejo sexual nos homens continua a ser um tema envolto em silêncio, em parte porque a sociedade associa a masculinidade à disponibilidade permanente para o sexo. Essa expectativa cultural torna difícil reconhecer que também os homens podem ter fases de menor interesse sexual, e que isso não significa fraqueza, falta de amor ou disfunção.O desejo sexual é um fenómeno biopsicossocial, ou seja, é influenciado por variáveis biológicas, psicológicas e relacionais.
Do ponto de vista biológico, pode ser influenciado por alterações hormonais (como a testosterona baixa), doenças crónicas (diabetes, hipertensão, doença cardiovascular), distúrbios do sono, consumo de álcool, ou efeitos secundários de alguns medicamentos.No plano psicológico, o stress, a fadiga, a ansiedade de desempenho ou a depressão são causas frequentes.
A sexualidade é uma das primeiras áreas a ressentir-se quando a mente está em sobrecarga. Acresce o peso das expectativas sociais, levando a que muitos homens sintam vergonha ou frustração por "não terem vontade", o que aumenta a ansiedade e agrava o problema. Na dimensão relacional, o desinvestimento emocional, a rotina, a falta de tempo a dois ou os conflitos no casal podem interferir na intimidade. A atração pode manter-se, mas o desejo precisa de contexto.
Por último, a diminuição do desejo pode ser explicada, em alguns casos, pela presença concomitante de outras disfunções sexuais. Por exemplo, perante uma dificuldade em ter ou manter a ereção, poderá haver a tendência para evitar intimidade sexual por receio de enfrentar o problema.No caso de se sentir incomodado com esta queixa, o primeiro passo é falar abertamente sobre o assunto, sem culpa nem julgamento.
É fundamental procurar avaliação médica para excluir causas orgânicas e, quando necessário, iniciar terapia sexual. Em muitos casos, pequenas mudanças no estilo de vida, psicoterapia ou ajustes na medicação devolvem o equilíbrio em falta.