O Consultório Sustentabilidade por Joana Guerra Tadeu, ativista pela justiça climática e autora de "Ambientalista Imperfeita.
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Li que França aprovou uma lei contra a fast fashion O que é que esta lei muda na prática? E será que podemos esperar algo parecido em Portugal?
Inês Marques
A indústria da moda é responsável por cerca de 10% das emissões globais de gases com efeito de estufa - mais do que os setores da aviação e do transporte marítimo juntos. É também uma das que mais explora pessoas e recursos naturais com milhares de produtos novos a serem produzidos todos os dias, a baixíssimo custo, com impacto ambiental brutal e condições de trabalho precárias.
A chamada "ultra fast fashion" é o pior exemplo disso: lojas como a Shein e a Temu adicionam 7220 novos itens por dia, em comparação com cerca de 340 no site da H&M, que já várias vezes foi criticada e levada a tribunal por crimes ambientais e de greenwashing.
Foi por isso que, em julho, França aprovou uma lei inédita para travar este modelo. A proposta, aprovada por unanimidade, inclui a proibição de publicidade por este tipo de marcas, penalizações sobre influencers, taxas ecológicas por peça vendida, obrigações de transparência para plataformas digitais e um imposto sobre pequenas encomendas que venham de fora da UE.
É uma mudança com impacto real: responsabiliza as marcas pelo seu impacto, sinaliza que o preço de uma t-shirt de três euros não pode continuar a ignorar o custo social e ambiental da sua produção e envia um recado à Europa inteira, se não ao Mundo.
Em Portugal, ainda não temos medidas semelhantes. Mas podemos e devemos exigir políticas públicas que penalizem empresas com modelos de negócio extrativistas, exploradores e nocivos para pessoas e para o Planeta.
Até lá, além de pressionar empresas e governos para que se mudem as regras do jogo, podemos tentar fazer algumas batotas: comprando menos, evitar fazer compras de impulso que levem a devoluções (que quase sempre acabam no aterro), reparando e alterando roupa que já temos e apostando na economia de partilha (comprar e vender em segunda mão, mercados de troca, aluguer de peças especiais para eventos).
Porque a moda não tem de ser descartável. Nem a justiça climática, uma tendência passageira.
*A NM tem um espaço para questões dos leitores nas áreas de direito, jardinagem, saúde, finanças pessoais, sustentabilidade e sexualidade. As perguntas para o Consultório devem ser enviadas para o email magazine@noticiasmagazine.pt

