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Amamentar reduz o risco de cancros de mama agressivos, conclui estudo oncológico

Ciência indica que amamentar pode proteger contra cancros de mama agressivos até cinco décadas Foto: Maria João Gala

O estudo foi apresentado no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica (Esmo), em Berlim, na Alemanha, e sustenta mesmo que amamentar pode ajudar a reduzir até 5% o risco de tumores triplo-negativos.

"Mulheres que tiveram filhos e amamentaram têm mais células T [glóbulos brancos com um papel essencial no sistema imunitário na eliminação de agentes estranhos ao corpo ou células anormais, que provocam o cancro] no tecido mamário quando comparadas com mulheres que não tiveram filhos, e esses efeitos permanecem por décadas", podendo estender-se até 50 anos de permanência. A frase é da oncologista australiana Sherene Loi, do Peter MacCallum Cancer Centre, e que liderou o estudo que conclui que quem amamenta tem risco menor de desenvolver cancros de mama agressivos e menos 5% de ser diagnosticada com os triplos-negativos.

A investigação, publicada na revista internacional Nature e que foi apresentada no congresso da Sociedade Europeia de Oncologia Médica, em Berlim, na Alemanha, incluiu três etapas. Numa primeira fase, a equipa analisou uma amostra de 260 mulheres saudáveis ​​que tinham sido submetidas a mastectomias preventivas ou reduções mamárias - algumas das quais com risco normal de cancro da mama, outras elevado - e compararam a contagem de células T no tecido mamário removido de mulheres com e sem filhos.

Numa segunda etapa do estudo, Loi e a equipa usaram modelos de ratas de laboratório para perceber se a gravidez e a amamentação protegiam contra o cancro da mama. Para tal, criaram três grupos: as que nunca tiveram filhos, as que tiveram com desmame imediato e as que passaram por um ciclo completo de lactação. Nesta fase, os investigadores, descreve a revista Nature em comunicado, "descobriram que os tumores eram menores nas que amamentaram e que estes animais também tinham mais células T nos tumores do que os ratos aos quais foram removidos precocemente os filhos". "A imunidade estava tanto na mama como no sistema. Portanto, a lactação altera realmente a imunidade de todo o corpo nestes modelos de ratos", confirmou Sherene Loi, citada na mesma nota de imprensa.

Por fim, na terceira e última fase da investigação, após análise de mais de mil mulheres que tinham sido diagnosticadas com cancro de mama triplo-negativo, uma das formas mais agressivas da doença, o estudo concluiu que "as que amamentaram tiveram melhores taxas de sobrevivência - e os tumores continham mais células T - do que aquelas que não o fizeram".

O estudo não determina o tempo mínimo de amamentação para confirmar a redução do risco, mas vinca que "amamentar um pouco é melhor do que nada". Os investigadores creem que estas conclusões possam contribuir para o desenvolvimento de novas estratégias de prevenção e de novos tratamentos contra o cancro de mama triplo-negativo.

Em Portugal, a amamentação é tema, mas por questões laborais, com o objetivo de limitar o prazo máximo de dispensa laboral que as mulheres dispõem para o efeito e que, segundo o governo de Montenegro, deve esgotar-se ao fim de dois anos, de acordo com proposta de revisão do pacote laboral.

A ministra do Trabalho Rosário Palma Ramalho rejeita que a limitação agora proposta seja qualquer ataque às mulheres e ao direito à amamentação, defendendo "uma calibração" por considerar que o atual regime "não é razoável".

"Sem limite de tempo uma trabalhadora ao abrigo desse Estatuto trabalha seis horas por dia e recebe oito, (...) menos uma semana por mês e recebe o mês inteiro. E manter isso ilimitadamente não é razoável, nem do ponto de vista da própria amamentação. É disso que estamos a falar e não de nenhum ataque", argumentou, na terça-feira, 28 de outubro, para acrescentar que Portugal "tem o segundo regime mais favorável da Europa", apenas atrás de Itália.

Carla Bernardino