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Israel quer confiscar território de importância histórica na Cisjordânia

Foto: Ahmad Gharabli/AFP

A Administração Civil de Israel quer apropriar-se de grandes áreas em Sebastia, um local com importância histórica na Cisjordânia, de acordo com um documento governamental consultado hoje pela Associated Press (AP).

A medida, tomada num momento em que o país enfrenta pressões para travar a violência dos colonos no território palestiniano, seria a maior apreensão de terras importantes do ponto de vista arqueológico por parte de Israel, de acordo com o documento obtido pela agência de notícias norte-americana.

A Peace Now, um grupo de vigilância anti-assentamento, disse que o local tem cerca de 450 acres (cerca de 1,8 quilómetros quadrados) o que constitui a maior apreensão de terras importantes a nível arqueológico por parte de Israel.

A medida foi tomada no momento em que os colonos israelitas celebravam a criação de um novo colonato ilegal perto de Belém, e um advogado palestiniano afirmou que um ativista da Cisjordânia foi detido e hospitalizado.

A ordem israelita publicada a 12 de novembro enumera as várias parcelas de terreno que pretende confiscar na área de Sebastia.

A Peace Now, que forneceu o documento à AP, afirmou que o sítio arqueológico, onde crescem milhares de oliveiras, pertence aos palestinianos.

Estima-se que a capital do antigo reino israelita de Samaria se encontra sob as ruínas de Sebastia, e cristãos e muçulmanos acreditam que foi onde João Batista foi enterrado.

Israel anunciou planos para transformar o local numa atração turística em 2023.

As escavações já começaram e o Governo atribuiu mais de 30 milhões de shekels (cerca de oito milhões de euros) para desenvolver o local, segundo a Peace Now e outro grupo de defesa dos direitos humanos.

A ordem dá aos palestinianos 14 dias para se oporem à declaração.

A maior parcela de terra histórica anteriormente confiscada por Israel era de quase 3.000 metros quadrados em Susya, uma aldeia no sul da Cisjordânia, segundo a Peace Now.

Entretanto, os colonos israelitas afirmaram ter estabelecido um novo posto avançado não autorizado perto de Belém.

O presidente do conselho local de colonos de Etzion, Yaron Rosenthal, saudou a implementação do novo colonato e afirmou que a nova comunidade "reforçará a ligação" entre Etzion e Jerusalém.

Hagit Ofran, diretora do programa de vigilância de colonatos da Peace Now, indicou que o posto avançado se situa num terreno que já foi uma base militar israelita.

O Governo israelita é dominado por defensores de extrema-direita do movimento dos colonos, incluindo o ministro das Finanças, Bezalel Smotrich, que formula a política de colonatos, e o ministro da Segurança Nacional israelita, Itamar Ben Gvir, que supervisiona a força policial do país.

Desde o início da guerra na Faixa de Gaza pelo menos 1.006 palestinianos, combatentes e civis, foram mortos por soldados ou colonos, de acordo com uma contagem da agência de notícias France-Presse com base em dados da Autoridade Palestiniana.

A violência não cessou com a trégua em vigor em Gaza desde 10 de outubro.

Segundo a ONU, a Cisjordânia registou em outubro um pico de violência sem precedentes em quase duas décadas.

JN/Agências