
Os ataques atribuídos a colonos cada vez mais jovens e violentos têm-se multiplicado na Cisjordânia
Foto: Menahem Kahana/AFP
As forças de segurança israelitas demoliram, esta segunda-feira, um posto avançado de um colonato na zona de Belém, na Cisjordânia ocupada, anunciou uma agência do Ministério da Defesa, em pleno aumento de incidentes relacionados com colonos violentos.
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De acordo com imagens de vídeo gravadas no local e partilhadas nas redes sociais e em meios de comunicação social israelitas, uma grande força foi mobilizada para o posto avançado em Tzour Misgavi, localizado no bloco de colonatos de Gush Etzion, a sul de Jerusalém.
Meios de comunicação social israelitas informaram que 25 famílias foram retiradas antes da demolição.
Os postos avançados estabelecidos pelos colonos para criar factos consumados no terreno são ilegais à luz da lei israelita, embora na prática muitos deles acabem por ser legalizados pelas autoridades.
Defensor da expansão dos colonatos e ele próprio colono, o ministro das Finanças israelita, o ultraconservador nacionalista Bezalel Smotrich, que também supervisiona os assuntos civis nos territórios palestinianos, justificou a evacuação do posto avançado de Tzour Misgavi com a sua localização num terreno onde as autoridades já têm um projeto de construção em curso.
"Ninguém me vai ensinar a construir colonatos", declarou em comunicado, referindo que as pessoas que foram despejados à força se tinham instalado sem a aprovação das autoridades.
O COGAT, a agência israelita de gestão dos assuntos dos territórios ocupados, advertiu que está determinado em combater "construções ilegais que prejudicam a segurança e a ordem pública de todos os residentes da área".
Por seu lado, o presidente do Conselho Regional de Gush Etzion, Yaron Rosental, comentou num vídeo divulgado pelo seu gabinete que "não havia outra escolha" a não ser demolir as estruturas.
"Os colonatos estão a prosperar porque estamos a trabalhar de forma coordenada e planeada. Este é um dia difícil, mas se não pararmos a construção ilegal hoje, pagaremos um preço elevado amanhã pelo futuro dos colonatos", sustentou.
Nas últimas semanas, os ataques atribuídos a colonos cada vez mais jovens e violentos, geralmente residentes em postos avançados, têm-se multiplicado na Cisjordânia, tendo como alvo habitantes palestinianos, mas também jornalistas, ativistas do seu próprio país e estrangeiros e, por vezes, até militares israelitas.
Em outubro, foram registados mais de 260 ataques de colonos contra palestinianos na Cisjordânia, o maior número num só mês desde que o gabinete de coordenação humanitária da ONU (OCHA) começou a documentar agressões em 2006.
Na terça-feira passada, a polícia e o exército de Israel prenderam vários colonos por envolvimento em ataques violentos contra palestinianos em Beit Lid, no norte da Cisjordânia, uma medida invulgar após denúncias reiteradas das autoridades locais e organizações de defesa dos direitos humanos sobre a impunidade de que beneficiam os habitantes judeus nos territórios ocupados.
No seguimento deste incidente, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, anunciou no domingo "medidas enérgicas" contra os colonos radicais e os seus atos de violência dirigidos à população palestiniana e também às tropas de Israel na Cisjordânia.
"São uma minoria que entra na Judeia e Samaria e não representam a maioria dos colonos, que respeitam a lei e são leais ao Estado", declarou Netanyahu antes de uma reunião governamental, usando as designações administrativas israelitas para o território da Cisjordânia.
No entanto, colonos violentos voltaram hoje a atacar palestinianos nas regiões de Belém e Hebron, situadas nas partes central e sul da Cisjordânia, segundo a organização Crescente Vermelho (federada com a Cruz Vermelha) e fontes locais.
Equipas do Crescente Vermelho em Belém prestaram auxílio a duas pessoas feridas, que foram levadas para o hospital, após um ataque de colonos em Al-Minya, a sudeste de Belém, informou a organização em comunicado.
Em Sair, a norte de Hebron, vários habitantes ficaram feridos durante outro ataque de colonos israelitas, que também incendiaram uma casa e dois veículos, segundo Issa Shalaldeh, pai do proprietário da casa incendiada, citado pela agência palestiniana Wafa.
Desde o início da guerra na Faixa de Gaza, em 7 de outubro de 2023, mais de mil palestinianos morreram na Cisjordânia, de acordo com números das Nações Unidas, em episódios de violência envolvendo militares e colonos radicais israelitas.
No mesmo período, segundo números oficiais de Israel, pelo menos 36 israelitas, incluindo civis e soldados, foram mortos em ataques palestinianos ou durante incursões militares.
