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25 de Novembro: da revolução na rua ao fim da revolução

Militares saíram à rua no 25 de Novembro Foto: Arquivo

Cronologia de acontecimentos que antecederam o 25 de Novembro, movimento militar que ditou o fim da revolução e o início da normalização da democracia portuguesa.

Em 1974, o Movimento das Forças Armadas (MFA), tinha derrubado, em 25 de abril, a ditadura mais antiga da Europa, de quase meio século. E a revolução "invadiu" as ruas.

Principais acontecimentos desde o golpe falhado de 11 de março ao 25 de Novembro de 1975:

11 de março

Tentativa falhada de um golpe de Estado de direita por militares ligados ao general António de Spínola.

12 de março

Rosário Dias, adjunto do gabinete de Vasco Gonçalves, prende alguns dos principais banqueiros e empresários do país, associados aos acontecimentos do 11 de março. Manifestações de apoio ao MFA por todo o país.

14 de março

Nacionalização da banca, com salvaguarda de capitais estrangeiros (decreto-lei n.º 132-A/75). É institucionalizado o Conselho da Revolução e a Assembleia do MFA (Lei 5/75). São extintos a Junta de Salvação Nacional, o Conselho de Estado e o Conselho dos Vinte.

17 de março

Posse do Conselho da Revolução.

25 de março

Expulsão de Spínola das Forças Armadas.

26 de março

Tomada de posse do IV Governo provisório.

11 de abril

Pacto MFA - Partidos. É assinada a Plataforma de Acordo Constitucional: PS, PPD, PCP, CDS, MDP, FSP.

23 de abril

Trabalhadores agrícolas ocupam quinta em Azambuja, que derá lugar à Cooperativa Agrícola Torre Bela.

25 de abril

Eleições para a Assembleia Constituinte com uma taxa de participação de 91,7%. Resultados: PS 37,9%; PPD 26,4%; PCP 12,5%; CDS 7,6%; MDP 4,1%; UDP 0,7%.

19 de maio

Início do chamado "Caso República". Raul Rego é afastado da direção do jornal pelos trabalhadores, acusado de ter tornado o República no órgão oficioso do PS.

19 de junho

PS desencadeia grandes manifestações (a maior na Fonte Luminosa, em Lisboa), depois de ter abandonado o Governo em 16 de Julho. O PPD segue-lhe o exemplo.

8 de julho

MFA divulga o Documento "Aliança POVO/MFA. Para a construção da sociedade socialista em Portugal."

12 de julho

Em declarações à imprensa, Henry Kissinger afirma: "Portugal está a ser a preocupação da América".

13 de julho

Assalto à sede do PCP em Rio Maior. Tem aqui início uma série de ações violentas contra as sedes de partidos e organizações políticas de esquerda, registadas por todo o país, mas com maior intensidade no Norte e Centro. Esta onda de violência, associada às forças conservadoras, ficou conhecida por Verão Quente.

27 de julho

Fuga de 88 agentes da ex-PIDE/DGS da prisão de Alcoentre.

30 de julho

É criada a "troika" que passa a liderar o Conselho da Revolução - Costa Gomes (Presidente), Vasco Gonçalves (primeiro-ministro) e Otelo Saraiva de Carvalho (chefe do COPCON).

7 de agosto

É anunciado o Documento Melo Antunes, apoiado pelo Grupo dos Nove, de militares moderados do MFA, e que se opõem às teses do Documento Guia Povo/MFA.

8 de agosto

Tomada de posse do V Governo Provisório, chefiado por Vasco Gonçalves.

10 de agosto

Melo Antunes e apoiantes do grupo dos moderados são afastados do Conselho da Revolução.

12 de agosto

Aparecimento do "Documento do COPCON", em contraposição ao "Documento dos Nove", e reforçando a ideia de ser atribuído um papel político relevante às Assembleias Populares (democracia de base).

30 de agosto

Vasco Gonçalves é demitido de primeiro-ministro.

10 de setembro

Desvio de mil espingardas automáticas G3 do depósito militar 6 em Beirolas.

11 de setembro

Manifestação dos SUV (Soldados Unidos Venceremos) no Porto, numa tentativa de criar, dentro das Forças Armadas, um grupo adepto do Poder Popular, como advogavam alguns partidos da chamada esquerda revolucionária.

21 e 22 de setembro

Agudiza-se a luta política nas ruas: manifestação dos Deficientes das Forças Armadas com ocupação de portagens de acesso a Lisboa e tentativa de sequestro do Governo. Prosseguem as nacionalizações.

25 de setembro

Nova manifestação dos SUV em Lisboa.

26 setembro

O Governo decide retirar ao COPCON "os poderes de intervenção para restabelecimento da ordem pública".

27 de setembro

Manifestantes de partidos de esquerda assaltam e destroem as instalações da Embaixada de Espanha em protesto pela execução de cinco nacionalistas bascos pelo regime de Franco.

9 de outubro

PCP denuncia "tentativa de uma viragem à direita da política portuguesa".

15 de outubro

Governo manda selar as instalações da Rádio Renascença, ocupada desde maio pelos trabalhadores. Mas a ocupação mantém-se.

7 de novembro

Confrontos violentos na região de Rio Maior entre representantes das UCP (Unidades Cooperativas de Produção) e Cooperativas Agrícolas da Zona de Intervenção da Reforma Agrária (ligadas ao sector do trabalhadores rurais) e representantes da CAP - Confederação de Agricultores Portugueses, dos proprietários agrícolas.

9 de novembro

PS, PPD e CDS manifestam-se em apoio ao VI Governo Provisório, de Pinheiro de Azevedo, no Terreiro do Paço, em Lisboa.

12 de novembro

Manifestação de trabalhadores da construção civil, em greve desde a véspera, cerca o Palácio de São Bento, sequestrando os deputados.

16 de novembro

Manifestação dos trabalhadores da cintura industrial de Lisboa, no Terreiro do Paço.

20 de novembro

Conselho da Revolução decide substituir Otelo Saraiva de Carvalho por Vasco Lourenço no comando da Região Militar de Lisboa. Governo anuncia a suspensão das suas atividades alegando "falta de condições de segurança para exercício do Governo do país". PCP e FUR organizam manifestação de apoio a Costa Gomes em Belém. Conselho da Revolução afasta Otelo Saraiva de Carvalho da Região Militar de Lisboa, nomeando Vasco Lourenço como substituto.

21 de novembro

Juramento de bandeira revolucionária, de punho erguido, no Regimento de Artilharia de Lisboa (RALIS), em Lisboa.

23 de novembro

Nova manifestação do PS em Lisboa. Mário Soares critica indecisão de Costa Gomes.

24 de novembro

Manifestação de agricultores em Rio maior corta acessos a Lisboa. Conselho da Revolução mantém nomeação de Vasco Lourenço para Região Militar de Lisboa. Melo Antunes, do Grupo dos Nove, afirma em entrevista à Le Nouvel Observateur que "a guerra civil espreita Portugal", que o país "desliza" para a direita e que o PCP "prepara a conquista do poder".

25 de novembro

Cerca de mil paraquedistas da Base Escola de Tancos ocupam o Comando da Região Aérea de Monsanto e outras bases aéreas (Tancos, Monte Real e Montijo), ato considerado pelo Grupo dos Nove como o indício de que poderia estar em preparação um golpe de Estado por sectores mais radicais, da esquerda. Presidente da República, Francisco da Costa Gomes, decreta o Estado de Sítio na Região de Lisboa e dá "luz verde" ao posto de comando para um contra-ataque aos revoltosos. Militares afetos ao Grupo dos Nove, controlam a situação. O capitão Duran Clemente, que comanda a ocupação da RTP, faz apelo, em direto, à mobilização revoltosa das "massas populares", mas é interrompido pela transmissão de um filme de Dany Kaye.

26 de novembro

Comandos da Amadora atacam o Regimento da Polícia Militar, unidade próxima das forças políticas de esquerda revolucionária, de que resulta três mortos. Tropas do Norte e do Centro do País reforçam posições em Lisboa, sob comando do Presidente da República, Costa Gomes. Paraquedistas desocupam base aérea de Monte Real. Tropas rebeldes abandonam a base aérea do Montijo e regressam a Tancos.

27 de novembro

Generais Carlos Fabião e Otelo Saraiva de Carvalho são destituídos dos cargos de Chefe de Estado-Maior do Exército e de Comandante do COPCON, respetivamente. O general Ramalho Eanes é o novo Chefe de Estado-Maior do Exército. É decretada a extinção do COPCON.

28 de novembro

O VI Governo Provisório de Pinheiro de Azevedo, em greve desde dia 20, retoma a atividade.

2 de dezembro

Fim do estado de sítio.

Cronologia elaborada a partir do livro "Pulsar da Revolução" (Ed. Afrontamento e CD-Rom), cronologia do Centro de Documentação 25 de Abril (Univ. Coimbra) e Centro de Documentação da Agência Lusa e portal Memórias da Revolução, promovido pelo Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

JN/Agências