Mundo

Presidente da Guiné-Bissau detido. Militares assumem "controlo total" do país

Soldados perto do palácio presidencial, em Bissau Foto: AFP

Militares assumiram o controlo da Guiné-Bissau, esta quarta-feira, depois de ao final da manhã terem sido ouvidos tiros na capital. O presidente, Umaro Sissoco Embaló, foi detido, as fronteiras fechadas e o processo eleitoral suspenso. O país tinha ido a votos no domingo e aguardava-se a divulgação do resultado na quinta-feira.

Embaló afirmou, em declarações ao jornal "Jeune Afrique", que foi detido. Confirmou que, por volta do meio-dia, homens fardados invadiram o palácio presidencial enquanto se encontrava no seu gabinete. O mesmo meio de comunicação também avança que o chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Biague Na Ntan, o vice-chefe do Estado-Maior, Mamadou Touré, e o ministro do Interior, Botché Candé, foram presos ao mesmo tempo.

Os soldados, provenientes da guarda presidencial e de uma unidade de elite, controlaram a área deserta em redor do palácio, à medida que a calma regressou a Bissau e os tiros cessaram, observaram os jornalistas da AFP no local. Pouco depois, os militares declararam, num comunicado lido na sede do Estado-Maior do Exército, ter assumido o "controlo total" do país e afirmaram que o processo eleitoral foi "suspenso" após as eleições. "Todas as fronteiras estão fechadas", acrescentam.

Centenas de pessoas a pé e de carro fugiram em busca de abrigo quando os tiros começaram.

O paradeiro do presidente, Umaro Sissoco Embaló, não era conhecido no momento dos tiros. Tanto Embaló como o candidato da Oposição, Fernando Dias, tinham declrado vitória no processo eleitoral, que até hoje tinha decorrido pacificamente.

Os resultados provisórios oficiais das eleições eram esperados amanhã, neste tumultuoso país da África Ocidental, que sofreu quatro golpes de Estado desde a independência, além de várias tentativas de golpe. Neste momento, os militares que assumiram o controlo do país suspenderam o processo.

Um transeunte que fugia da cena caótica disse à AFP que já estão "habituados a isso em Bissau".

A Guiné-Bissau está entre os países mais pobres do mundo e é também um centro de tráfico de droga entre a América Latina e a Europa, um comércio facilitado pela longa história de instabilidade política do país.

Ambos os candidatos declararam vitória

Ambos os candidatos já haviam declarado vitória, sem muitas provas para sustentar as suas alegações.

"Não haverá segunda volta", disse o porta-voz da campanha de Embaló, Oscar Barbosa, à AFP na terça-feira, acrescentando que o presidente "terá um segundo mandato".

Dias também declarou vitória, num vídeo publicado nas redes sociais: "Esta eleição foi ganha, foi ganha na primeira volta".

A última votação presidencial da Guiné-Bissau, em 2019, foi marcada por uma crise pós-eleitoral de quatro meses, uma vez que ambos os principais candidatos reivindicaram a vitória.

A eleição opôs Embaló a Domingos Simões Pereira, o candidato do principal partido da Oposição do país, o PAIGC, que garantiu a independência da Guiné-Bissau de Portugal em 1974.

As eleições de 2025 excluíram notavelmente o PAIGC e Pereira, que foram retirados da lista final de candidatos e partidos pelo Supremo Tribunal, que afirmou que tinham apresentado as candidaturas oficiais demasiado tarde.

Em 2023, Embaló dissolveu o poder legislativo - que era dominado pela Oposição - e, desde então, tem governado por decreto.

A Oposição afirma que a exclusão do PAIGC das eleições presidenciais e parlamentares equivale a "manipulação" e sustenta que o mandato de Embaló expirou a 27 de fevereiro, cinco anos após a sua tomada de posse.

Mais de 6780 forças de segurança, incluindo da Força de Estabilização da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), foram destacadas para as eleições e para o período pós-eleitoral.

Apelo do Governo

O Ministério dos Negócios Estrangeiros apelou, em comunicado, a que "todos os envolvidos se abstenham de qualquer ato de violência institucional ou cívica", tendo em conta os "acontecimentos que interromperam o curso da normalidade constitucional na Guiné-Bissau".

O Governo português pede ainda "que se retome a regularidade do funcionamento das instituições, de modo que se possa finalizar o processo de apuramento e proclamação dos resultados eleitorais".

"O Governo está em contacto permanente com a embaixada portuguesa em Bissau, para se assegurar da situação dos cidadãos portugueses", bem como "da população em geral", concluem.

AFP