
General Horta Inta-A na tomada de posse
Foto: Patrick Meinhardt / AFP
As forças armadas da Guiné-Bissau nomearam o general Horta Inta-A como novo líder do país por um período de um ano, esta quinta-feira, um dia após tomarem o poder, prenderem o presidente e impedirem o anúncio dos resultados eleitorais.
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Soldados patrulhavam a área em torno do palácio presidencial da Guiné-Bissau, na manhã desta quinta-feira, e algumas pessoas foram vistas a caminhar pela estrada principal que leva ao edifício, onde tiros foram ouvidos no dia anterior.
Após tomar posse numa cerimónia no Estado-Maior General das Forças Armadas guineense, o general Horta Inta-A, chefe do Estado-Maior do Exército, declarou que vai "liderar o Alto Comando", observaram jornalistas da AFP.
Dezenas de soldados fortemente armados foram destacados para o local enquanto o presidente empossado dizia numa conferência de imprensa que as ações eram necessárias "para bloquear operações que visavam ameaçar a democracia".
Inta-A afirmou que as provas eram "suficientes para justificar a operação", acrescentando que "as medidas necessárias são urgentes e importantes e requerem a participação de todos".
Tendo servido até agora como chefe do Estado-Maior do exército do país, Inta-A é considerado próximo do presidente Embaló nos últimos anos.
Um grupo de oficiais disse, na quarta-feira, que tinha assumido o "controlo total" do país propenso a golpes de Estado, suspendendo o processo eleitoral enquanto a Guiné-Bissau aguardava os resultados da votação do domingo passado, que se esperava que o presidente Umaro Sissoco Embaló vencesse.
Na quarta-feira à tarde, o general Denis N'Canha, chefe do gabinete militar presidencial, disse aos jornalistas que os militares estavam a assumir o controlo do país "até novo aviso", após ter sido descoberto um plano envolvendo "barões da droga", que incluía "a introdução de armas no país para alterar a ordem constitucional".
Além de interromper "todo o processo eleitoral", N'Canha afirmou ainda que as forças militares suspenderam "toda a programação de média" e que impuseram um toque de recolher obrigatório. Todas as fronteiras terrestres, aéreas e marítimas foram fechadas após o golpe, mas o general Lassana Mansali garantiu hoje que já tinham sido reabertas.
Embaló foi preso na quarta-feira e mantido na sede do Estado-Maior, onde estava a ser "bem tratado", segundo uma fonte militar. Um oficial superior acrescentou que "o chefe do Estado-Maior e o ministro do Interior" também tinham sido detidos.
O líder da Oposição, Domingos Simões Pereira, que foi impedido de concorrer às eleições presidenciais do fim de semana passado pelo Supremo Tribunal, também foi preso na quarta-feira, segundo duas fontes próximas dele.
Já Fernando Dias da Costa, que se considera vencedor das eleições, afirmou ontem à noite ter escapado de uma alegada tentativa de detenção por homens armados. "Saímos por portas traseiras do edifício, perseguiram-nos de todas as formas, e felizmente conseguimos escapar-lhes. Estou num local seguro", disse Dias da Costa, sem especificar onde se encontra.
O presidente da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) "condena inequivocamente o golpe de Estado" numa declaração na quinta-feira, recordando a "tolerância zero do organismo em relação a mudanças inconstitucionais de governo".
Portugal desencoraja "qualquer ato de violência"
A Guiné-Bissau está entre os países mais pobres do Mundo e é também um centro de tráfico de droga entre a América Latina e a Europa, um comércio facilitado pela longa história de turbulência política da nação.
A estabilidade política foi uma das principais questões nas eleições, dado o passado turbulento do país. Em outubro, o exército afirmou ter frustrado uma "tentativa de subverter a ordem constitucional" e prendeu vários oficiais militares de alta patente.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, estava "a acompanhar a situação com profunda preocupação", disse o seu porta-voz, enquanto Portugal, antiga potência colonial do país, desencorajou "qualquer ato de violência institucional ou cívica".
Sadibou Marong, diretor do escritório da Repórteres Sem Fronteiras na África Subsaariana, afirmou que a suspensão dos meios de comunicação no país constitui uma grave violação do direito à informação.
"A população deve poder ser informada sobre o que está a acontecer no país, especialmente neste contexto de crise política", defendeu.
A região da África Ocidental tem sido palco de vários golpes de Estado nos últimos anos, com o Mali, o Burquina Faso, o Níger e a Guiné a verem os seus governos derrubados.
Situada entre a Guiné e o Senegal, a Guiné-Bissau sofreu quatro golpes de Estado desde a independência de Portugal em 1974, bem como várias tentativas de golpe.
