Évora

José Manuel Santos: "Capital Europeia da Cultura é a nossa Expo'98"

José Manuel dos Santos, presidente da Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo Foto: Pedro Gomes Almeida

José Manuel Santos, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo, pretende mais profissionais a trabalhar no turismo.

Évora prepara-se para ser Capital Europeia da Cultura em 2027. Já no próximo ano, acolhe a Capital Europeia do Vinho e, nesta reta final de 2025, a região participa no Congresso do Turismo em Macau. A entidade de turismo da região está a preparar um plano de integrado com um orçamento na ordem dos sete milhões de euros, assente em seis eixos estratégicos, e no cerne deste plano está José Manuel Santos, presidente da Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo, também eleito, em abril, presidente da Agência de Promoção Turística da região.

Em que pilares assenta o plano estratégico para o turismo do Alentejo?

É um plano integrado que tem muito a ver com a adaptação da nossa oferta turística, um trabalho de transformar recursos em produtos, com todas as mutações que os mercados turísticos estão a causar em termos de desafios. E, portanto, passa por conseguirmos ser cada vez mais competitivos nos mercados internacionais. Sublinharia um roteiro das artes contemporâneas do Alentejo, em que vamos pôr no itinerário um conjunto de ícones arquitetónicos ligados às adegas de autor, assentos culturais e de arte contemporânea. Um segundo pilar tem a ver com a melhoria das condições de acolhimento e de hospitalidade. O terceiro eixo está ligado à sofisticação e melhoria da nossa capacidade promocional. Um quarto eixo muito ligado à atração de eventos. E o quinto eixo insere-se na parte da formação profissional. Por último, um sexto pilar, que assenta na monitorização do destino.

O principal problema do turismo na região é a falta de mão de obra?

É um problema geral do turismo em Portugal, também existe noutras latitudes geográficas. Os nossos empresários são autênticos heróis pela forma como conseguem resolver o problema. É importante as empresas perceberem que a sua política de captação e de retenção desses colaboradores tem de ser totalmente diferente do que era no passado, desde logo pela oferta de pacotes remuneratórios diferenciados. Também é um papel do lado público. As câmaras municipais têm que ter uma atitude mais menos expectante no sentido de incluírem nas suas políticas municipais, especialmente aqueles concelhos que estão mais expostos ao turismo, têm de criar políticas em articulação com o setor privado, no sentido de se poder criar soluções de habitação acessível dirigidas a esses trabalhadores. O Alentejo é uma região fantástica, com um grande sentido de hospitalidade. Portanto, é um trabalho conjunto que temos de fazer. É um problema para o qual temos de olhar de uma forma mais pragmática e mais enfática. Acredito que há uma nova geração de hoteleiros e de empresários que olham para essa questão dessa forma.

No plano das acessibilidades, a região é atravessada pela Autoestrada do Sul e, recentemente, também foi crítica quando se falou da abolição das portagens. Quer explicar?

É uma questão de equidade. Ainda bem que o acesso a regiões como o Algarve ou como ao centro de Portugal, vindo de Espanha, passou a ser isento de portagens, ou vindo das nossas principais áreas metropolitanas, Porto e Lisboa, mas o acesso ao Alentejo continua a ser alvo de portagens. E, portanto, eu penso que há um tratamento desigual. Não tenho nada contra, antes pelo contrário, mas gostava que esses benefícios pudessem chegar ao pequeno comerciante de Borba, ao pequeno artesão de Elvas, ao pequeno turismo rural do Redondo, e não estão a chegar.

Estavam previstas cinco mil novas unidades, em cinco anos, de oferta hoteleira na Costa Vicentina. Que ponto de situação faz nesta altura?

Temos uma previsão a dez anos. O Alentejo tem neste momento cerca de 30 mil camas, com um contributo muito significativo das zonas do Eixo Tróia-Melides e do Alqueva. Há uma previsão de passarmos destas 30 mil para 70 mil camas no prazo de oito a dez anos. Os projetos são todos licenciados, enfim, poderá haver aqui algum fator que eventualmente mude ou altere a execução normal deste pipeline de projetos, mas o turismo no Alentejo, até pelo espaço que existe, pelas condições, pela procura que sentimos nos mercados, é muito a reserva estratégica do turismo de Portugal, é por onde pode crescer. Tem aquilo que os mercados cada vez mais procuram: as tendências internacionais, a autenticidade, o luxo, que não é ostentação. O silêncio, isso sim, está no Alentejo.

E Évora terá capacidade de alojar os visitantes quando for Capital Europeia da Cultura e do Vinho?

Provavelmente, não. Muitos visitantes vão ficar noutras localidades no Alentejo, em Lisboa, em Badajoz. Isso será normal. O importante é que Évora receba bem. Que a Capital Europeia da Cultura consiga mostrar o turismo de baixo impacto, o turismo onde a cultura e a criatividade das pessoas têm um papel central na experiência, um turismo muito ligado à gastronomia autêntica, à cultura diversa, à qualidade dos nossos hotéis, à nossa arquitetura. Eu acho que Évora vai conseguir mostrar isso. Costumo dizer, a brincar, que a Évora"27 é a nossa Expo"98. Será um evento muito importante para a região, para Portugal. As capitais europeias da cultura têm esta capacidade de mexer muito com o turismo, com o ecossistema turístico e vai ser certamente um grande evento para promover o Alentejo, mas também o próprio país.

Ana Maria Ramos