Quase tudo separou António Filipe e João Cotrim de Figueiredo. Os dois candidatos esmiuçaram argumentos, no debate deste domingo à noite, mas fizeram um esforço para não alavancarem as visões políticas na corrida a Belém. Ou pelo menos tentaram.
O comunista acusou o adversário de defender o "1% mais rico" e o liberal criticou o apoio dado pelo PCP no tempo da gerigonça.
"A crise no SNS é resultado de políticas neo-liberais. Há falta de investimento no setor público, porque o dinheiro é canalizado para as convenções", disse António Filipe. Para João Cotrim de Figueiredo, a escolha do prestador de saúde, seja público, privado ou cooperativo, pelos cidadãos "deve ser livre". "Não sou candidato para impor nenhuma visão", referiu.
A tomada de posição levou o comunista a perguntar a Cotrim de Figueiredo como pensa "fazer esse milagre": "se a pessoa não tiver capacidade económica, quem vai pagar?". "Reforçando o SNS, há melhor garantia de que todos são bens tratados", acrescentou.
O candidato apoiado pelo PCP criticou ainda o liberal pelo "apoio" à proposta de anteprojeto laboral. "Os neo-liberais querem vender ideias bafientas como se fossem modernidades", apontou. Já o candidato apoiado pela IL respondeu que é um "imobilismo total" considerar que não há nada "aproveitável" na proposta do Governo.
Para Cotrim de Figueiredo, todos os anos, milhares de jovens emigram para países da Europa com políticas laborais mais "flexíveis". "A promulgação do anteprojeto da legislação laboral, enquanto presidente da República, seria no sentido abstrato", referiu.
O candidato apoiado pela IL considerou, contudo, que as regras para a licença de amamentação e o travão à recusa dos pais para trabalhar à noite ou fim de semana, previstas inicialmente na proposta do Governo, são "excessivos".
António Filipe, apoiado pelo PCP
"O que prejudica o país é este pacote laboral. As greves já têm serviços mínimos e até já têm serviços máximos. Nenhum trabalhador faz greve por desporto ou alegria. A greve é um direito legítimo dos trabalhadores"
João Cotrim de Figueiredo, apoiado pela IL
"São precisos melhores salários. Acho lindamente haver mais contratação coletiva, mas isso não pode retirar o poder negocial aos trabalhadores. Qualquer empresa que se preze faz dos seus trabalhadores o seu principal ativo"