O debate em torno da possibilidade de permitir que as mulheres católicas pudessem servir como diaconisas voltou a sofrer uma derrota. Comissão de alto nível do Vaticano votou contra esta possibilidade, admite confronto entre as teses da "masculinidade de Cristo" e a "igualdade entre homens e mulheres à imagem de Deus", mas pede estudo mais aprofundado.
As mulheres podem continuar a ter participação ativa no serviço à religião católica, mas vão continuar a estar impedidas de celebrarem missas, batizados, casamentos, funerais e outras funções e cerimónias que estão na esfera dos diáconos.
A comissão Petrocchi, de alto nível do Vaticano, votou contra a possibilidade de ter mulheres católicas como diaconisas, embora em algumas partes do mundo elas já exerçam algumas funções na ausência de um padre, mas não podem celebrar missas.
A entidade considera que a investigação histórica e teológica "exclui a possibilidade de avançar no sentido da admissão de mulheres ao diaconado", neste momento, na Igreja Católica. O Vaticano alega que "à luz da Sagrada Escritura, da Tradição e do Magistério da Igreja, esta avaliação é fortemente mantida".
Nas conclusões, o cardeal Petrocchi sublinha a "intensa dialética" entre duas orientações teológicas: a dos que sustentam que o afastamento das mulheres destas funções "parece contradizer a igualdade de estatuto entre homens e mulheres à imagem de Deus" e aos que alegam a "masculinidade de Cristo" e que "alterar esta realidade não seria um simples ajustamento do ministério, mas uma perturbação do significado nupcial da salvação".
Contudo, a comissão pede "estudo continuado" sobre esta matéria para "um exame crítico rigoroso e abrangente" que olhe para as funções.
Recorde-se que este dossiê foi aberto durante o papado de Francisco, em 2016, e após pedido de um grupo que representava irmãs e católicas de todo o mundo, tendo instituído duas dcomissões para o efeito e que deliberaram em segredo.
Da pedofilia à violência doméstica.
Mulheres diáconos teriam feito a diferença
A pesquisadora da Universidade Hofstra, de Nova Iorque e que lançou em Portugal o livro Mulheres Diáconos (em 2019), Phyllis Zagano, integrou aquele debate encetado por Francisco e volta a ser crítica dos resultados. A especialista considera, citada pela agência Reuters, que este novo texto "faz o possível para apresentar o tema sob uma luz negativa, escolhendo seletivamente comentários de relatórios anteriores sem fornecer um contexto completo".
Em 2019, Phyllis Zagano, em entrevista à Delas.pt, não poupava críticas ao Vaticano, pedia verdade e acusava os "ignorantes" da Igreja de estarem a travar um direito que as mulheres tiveram até ao século XII: o de serem ordenadas diáconos. Nessa ocasião e a propósito dos casos de pedofilia na Igreja, a investigadora afirmou mesmo que "as mulheres diácono nas sacristias teriam travado uma grande parte disso, não teriam tocado nas crianças".
No caso da violência doméstica, Zagano revelou que o papa Francisco lhe contou que, na História, as mulheres chegaram a poder ajudar na resolução de problemas dessa natureza. "Foi ele que, em maio de 2016, nos contou que um professor sírio lhe disse que quando uma mulher acusava um homem de lhe bater, ela ia ter com a mulher diácono, que depois falava com o bispo".
O que tem defendido o papa Leão XIV
Antes de ser eleito Papa, o cardeal Robert Francis Prevost considerou, em 2023, no âmbito do Sínodo sobre a Sinodalidade, que "clericalizar as mulheres" "não resolveria necessariamente os problemas da Igreja, poderia criar possivelmente um novo".
Considerava, então, Prevost que "talvez precisássemos de olhar para uma nova compreensão ou uma compreensão diferente de liderança, poder, autoridade e serviço - acima de tudo serviço - na Igreja a partir das diferentes perspetivas que podiam ser, se quisessem, trazidas para a vida da Igreja por mulheres e homens."
Lembrou, à data, que um legado com mais de dois mil anos não se mudava de um momento para o outro, mas, sem fechar decisivamente a porta, considerou que "haverá um reconhecimento contínuo do facto de que as mulheres podem acrescentar muito à vida da Igreja em muitos níveis diferentes".