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"Já sinto uma carga pesada sobre os ombros". Foi a primeira reacção do presidente da câmara de Braga, na madrugada do dia 13 de Dezembro de 1976, em plena sala de imprensa do Governo Civil depois de saber que tinha sido o escolhido para dirigir os destinos da cidade. Com 29 anos de idade, vindo do concelho vizinho de Famalicão, Francisco Soares Mesquita Machado, engenheiro de profissão e deputado na Assembleia da República de então, conquistava para o Partido Socialista, nas primeiras eleições autárquicas após o 25 de Abril, um lugar que 30 anos depois continua a ser seu.
"Os resultados coadunam-se com o que nós esperávamos, com uma ligeira descida nos meios urbanos e uma subida nos meios rurais", afirmava na altura ao jornal "Correio do Minho", numa estratégia que ainda hoje dá maiorias. Ao mesmo jornal manifestou "surpresa" pelos números da abstenção. Uma vitória que não foi fácil, "conseguida a ferros", já que o CDS esteve sempre "à perna" e que obrigou Mesquita Machado a governar os primeiros quatros anos sem maioria absoluta (ver caixa). Um facto que não mereceu preocupações do autarca "estou convencido que não haverá problemas, já que iremos irmanar num projecto comum que é servir a comunidade bracarense".
Recusando a exercer uma "acção de gabinete", prometeu "andar em visitas constantes pela freguesias para tomar conhecimento dos reais problemas das populações". Com os resquícios da revolução ainda presentes, sobretudo, nos concelhos mais longínquos de Lisboa, Mesquita Machado pedia "a colaboração de todos os funcionários municipais, dando o seu contributo para que tudo funcione com eficácia".
Curiosamente os dois jornais diários de Braga, têm perspectivas completamente diferentes sobre estas eleições. Enquanto o "Correio do Minho" (CM) fala "em civismo português é exemplo a seguir pelo mundo inteiro", o Diário do Minho limitava-se a publicar os resultados e a constituição camarária. Nem a polémica da altura com Mesquita Machado e Salgado Zenha (que seria eleito presidente da Assembleia Municipal) a serem apelidados de pessoas impostas pelo partido e desconhecedores do concelho, impediram a eleição dos dois socialistas.
A acompanhar Mesquita Machado no seu primeiro mandato como presidente da câmara estiverem António Pereira Martins e Jerónimo Louro, também do PS, Mendes de Carvalho, Alfredo Marques e Daniel Mendes do CDS, António Pedro Moreira e Fortunato de Oliveira do PSD e Manuel Fonseca da FEPU (Frente Eleitoral Povo Unido). No total votaram 50.656 bracarenses, tendo o PS obtido 15.539 votos e o CDS 13.893. Nestas primeiras eleições trabalharam 45 pessoas afectas ao Governo Civil, 23 funcionários dos CTT e uma equipa de dois capitães, quatro sargentos e dois soldados. Sem enchentes significativas, os votantes ao início da tarde rondavam os 45%, percentagem que foi aumentando com o decorrer do dia.