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A Oposição, quer à Direita quer à Esquerda, está a seguir uma estratégia comum de desgaste do Governo socialista. A prová-lo está o anúncio ontem feito por Paulo Portas de agendamento para quinta-feira, de uma nova moção de censura ao Governo. Será a terceira nesta legislatura, apenas em cinco meses. Tal como as anteriores (primeiro do BE e depois do PCP), a moção do CDS-PP será rejeitada pelo peso da maioria absoluta, mas obrigará, uma vez mais, o primeiro-ministro a responder às críticas da Oposição.
Paulo Portas aproveitou o ambiente político quente do debate quinzenal, ontem no Parlamento, para argumentar que "há muitas razões para continuar a censurar este Governo". Entre elas destacou "A cegueira do primeiro-ministro em relação aos combustíveis; o sufoco das pequenas e médias empresas; os abusos fiscais; os pensionistas esquecidos; o abandono do campo; a preocupante criminalidade; o facilitismo na educação e a política de saúde que ninguém percebe".
Em resposta, Sócrates acusou Portas de "aproveitar o momento difícil do país para fazer política". Mas o debate esteve longe de se resumir à moção de censura.
Francisco Louçã, do BE, que escolhera a questão dos combustíveis (ler pág7) como tema de abertura da sessão, acabou por marcar o tom da polémica ao acusar o primeiro-ministro de "controlar e manipular os sindicatos da UGT", dizendo que Sócrates e o sindicalista João Proença estiveram juntos a explicar o Código de Trabalho aos socialistas. O verniz político estalou com as acusações mútuas de "mentiroso" e de "cobardia" e com Louçã a apelidar de "uivos" os sonoros protestos da bancada socialista.
Depois de considerar este confronto de "wrestling político, por ser uma luta intensa mas simulada como se prova com a aliança na Câmara de Lisboa", Santana Lopes, do PSD, confrontou Sócrates com os números da pobreza e com as críticas de Mário Soares à política social do Governo.
Sócrates exaltou-se e acentuou que esses dados "são um embuste" porque se referem a 2004, ano em que o PSD esteve no poder. Argumento que também usou para comentar aos jornalistas as críticas do fundador do PS. "Mário Soares foi influenciado por esse embuste".