Costa da Caparica: Apenas 1/6 da areia definida em obra de protecção costeira foi colocada - projectista
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Figueira da Foz, Coimbra, 24 Nov (Lusa) - O projectista responsável pela obra de protecção costeira da Costa da Caparica, Fernando Veloso Gomes, disse sexta-feira à noite, na Figueira da Foz, que apenas um sexto da areia definida no projecto foi colocada.
"Está lá apenas meio milhão de metros cúbicos de areia dos três milhões que projectei", denunciou o especialista da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, aludindo à consolidação do areal da Costa da Caparica.
Intervindo numa sessão promovida pela Ordem dos Engenheiros sobre a protecção da orla costeira, área na qual é considerado um dos maiores especialistas nacionais, Veloso Gomes manifestou-se chocado pela situação da Margem Sul do Tejo.
"Agora dizem que vão pôr mais um milhão. O que choca nisto tudo é que há 40 anos já se falava na alimentação artificial da Costa da Caparica com areias do Porto de Setúbal. 40 anos, vejam bem!..." disse, dirigindo-se à assistência constituída por cerca de meia centena de profissionais da engenharia.
A sessão de debate sobre a protecção da orla costeira integra-se nas comemorações do Dia Nacional do Engenheiro, que decorrem até sábado na Figueira da Foz.
Veloso Gomes aludiu, concretamente, à situação em redor do parque de campismo da Caparica - que sofreu as investidas do mar e teve de ser protegido - defendendo a intervenção naquela zona para permitir a segurança da própria cidade.
"O que me preocupa é toda a cidade da Costa da Caparica, não é o parque de campismo nem nenhum apoio de praia. Vamos ter de defender aquela zona enquanto tivermos ali uma cidade, porque quando o mar avançar pelo parque de campismo ninguém o para", alertou.
Em relação à orla costeira nacional lembrou que existem zonas "que não têm estudos hidrográficos há 50 anos", defendendo-os.
"Temos de começar por estudar a porta de casa, caso contrário, um dia destes, temos a porta arrombada", sustentou.
Na sua intervenção, que titulou de "mitos, desafios e angústias das regiões costeiras", Fernando Veloso Gomes frisou que um dos mitos é a possibilidade de resolver definitivamente os problemas das orlas costeiras.
"Não vamos resolver, vamos adiar, mitigar os problemas", sustentou.
Outro dos mitos, segundo Veloso Gomes, é o de que os problemas que afectam as regiões costeiras estão directamente relacionados com as alterações climáticas.
Ao invés das alterações climáticas, apontou a retirada de areais "sem medidas compensatórias" ou a elevada pressão social - em zonas onde residem centenas de milhar de pessoas - "para construção em zonas de risco" como algumas das causas dos problemas da orla costeira.
JLS.
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