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O decréscimo do tráfego de mercadorias no porto de Lisboa e a sua canalização para Sines é uma inevitabilidade, a prazo. Uma situação que responsáveis ligados ao sector dos transportes terrestres, contactados pelo JN, veriam com agrado - apesar da duplicação de custos e estruturas a que tal cenário conduziria, para agentes de navegação e transitários, os mais cépticos face a esse cenário.
O secretário-nacional da Associação de Agentes de Navegação de Portugal, Delmar da Costa, considera que uma progressiva canalização de mercadorias para o porto de Sines "é uma pena, pela riqueza comercial que Lisboa poderia atingir, se tivesse havido vontade política nos últimos anos", mas é "inevitável". A grande aposta do mercado, actualmente, é a carga contentorizada, que só Sines tem capacidade para receber", afirma.
"É claro que o Governo não o vai anunciar, nem pode, porque seria um desastre económico. Vai deixar o mercado funcionar", afirma, acrescentando que o tráfego de mercadorias em Lisboa já está a descer. Quanto às consequências que tais mudanças vão implicar nos agentes de navegação, Delmar da Costa é peremptório: "Nós vamos para onde o negócio for, o que provavelmente implica ter escritórios em Sines, mantendo a vertente comercial em Lisboa, onde estão os clientes".
O director-administrativo da Associação de Agentes Transitários de Portugal, Tomé Namora, considera difícil que tal cenário se concretize, para já. "A ida de mercadorias para Sines não é feita por decreto; implica grandes contratos internacionais, e só vai para um novo porto quem tem garantias de uma estrutura de custos mais baixa", considera. No entanto, admite que, se for feito o necessário investimento em rodovias e ferrovias, Sines será "um porto apetecível, a médio prazo". O que implicará, na altura, investimento na duplicação de estruturas.
Para o presidente da Administração da CP, Martins de Brito, "o turismo em Lisboa e as mercadorias em Sines seria uma situação benéfica. A CP poderia rentabilizar melhor o sistema produtivo, adequando a oferta de serviços ao segmento que operasse em cada um dos portos", afirmou. Opinião semelhante tem Braamcamp Sobral - que falou ao JN na qualidade de presidente da REFER - para quem existem demasiados portos em Portugal.
O JN tentou falar com as administrações dos portos de Lisboa, Sines e Leixões, sem sucesso. Por seu turno, fonte oficial do gabinete do ministro Carmona Rodrigues negou a intenção de encaminhar as mercadorias de Lisboa para o porto de Sines, e que o ministro está ainda a analisar um estudo estratégico do sector. No final do mês passado, a Administração do porto de Lisboa foi demitida por Carmona. Na altura, o ministro justificou as exonerações pela necessidade de "recomposição de uma equipa, tendo em conta as novas orientações estratégicas para o porto de Lisboa, que têm a ver com áreas de negócio não portuárias".