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O mestre da guitarra portuguesa Carlos Paredes morreu com "a tranquilidade de quem sabe que está com a missão cumprida", disse hoje à agência Lusa Luísa Amaro, companheira de Paredes desde há 20 anos.
Pai de seis filhos, Carlos Paredes padecia de doença degenerativa que o deixou acamado durante 11 anos, acabando por morrer às 5:45 de hoje, dois dias depois de um dos rins ter deixado de funcionar.
"Chegou ao ponto em que o organismo não podia dar mais. Anteontem um dos rins deixou de funcionar", afirmou a companheira de Paredes, que desde 1983 o acompanhou à guitarra clássica.
"Portugal teve no Carlos Paredes a genialidade, sensibilidade, poder de composição, uma belíssima técnica, e interpretação. Ele cumpriu os pontos que tinha a cumprir nesta passagem pela terra", disse Luísa Amaro.
Era um homem "muito bom e muito simples", que deu uma contribuição muito grande para a cultura portuguesa, disse Luísa Amaro, adiantando que quem ouve a música de Carlos Paredes reconhece-a de imediato.
Há 10 anos que deixou de produzir obra, mas ao longo deste período a sua música ajudou a caminhar para a frente a nova geração de músicos, que lhe dedicou muita coisa, disse Luísa Amaro.
Lutador pela liberdade e pela democracia, o génio da música portuguesa foi preso pela PIDE, que o manteve enclausurado durante dois anos.
O corpo de Carlos Paredes estará em câmara ardente na Basílica da Estrela, desconhecendo-se para já a hora e o local do enterr.
O mestre da guitarra portuguesa Carlos Paredes morreu hoje às 6:00 aos 79 anos, em Lisboa, após doença prolongada, disse à agência Lusa uma fonte da Fundação-Lar Nossa Senhora da Saúde, onde o compositor estava internado.
Carlos Paredes nasceu em Coimbra a 16 de Fevereiro de 1925, tendo dedicado quase toda a sua vida à guitarra portuguesa.
Filho e neto dos guitarristas Artur e Gonçalo Paredes, Carlos Paredes começou a estudar guitarra portuguesa aos quatro anos, aprendendo a tocar com o pai, apesar de a mãe querer que estudasse piano.
Em 1934, com nove anos, muda-se para Lisboa com a família, onde em 1957 grava o seu primeiro disco, a que chamou simplesmente "Carlos Paredes".
Três anos depois a sua música é utilizada como banda sonora no filme "Rendas de Metais Preciosos", de Cândido da Costa Pinto.
Pelo caminho compõe a banda sonora de outros filmes, como "Verdes Anos", de Paulo Rocha, em 1962, "Fado Corrido", de Jorge Brum do Canto, em 1964, e a de "As pinturas do meu irmão Júlio", em 1965.
Em 1967, edita "Guitarra Portuguesa", o seu primeiro álbum, com Fernando Alvim à viola, e no ano seguinte "Romance Nº 2", "Fantasia", "Porto Santo" e "Guitarra Portuguesa".
Três anos depois, em 1971, grava o disco "Movimento Perpétuo".
Na altura da revolução dos cravos, durante e após Abril de 1974, toca em diversos pontos do país, só voltando a editar um disco em 1987, quando saiu "Espelho de Sons".
No entanto, em 1975 edita "É preciso um país", poemas lidos por Manuel Alegre acompanhados à guitarra por Carlos Paredes.
Até à década de 90 conciliou a guitarra com a sua actividade como administrativo no Hospital de São José, Lisboa.
"As pessoas gostam de me ouvir tocar guitarra, a coisa agrada-lhes e eles aderem. Não há mais nada", disse ao Público em Março de 1990.
Em Dezembro de 1993 é-lhe diagnosticada uma mielopatia, doença que lhe atacou a estrutura óssea e que o impediu de tocar a guitarra, tendo ficado internado desde então na Fundação-Lar Nossa Senhora da Saúde, em Campo de Ourique, Lisboa.