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Rabah Madjer terá sido o craque mais genial que alguma vez passou pelo F. C. Porto. Vinte anos volvidos sobre o famoso golo de calcalhar ao Bayern de Munique, que lançou os dragões para a vitória na Taça dos Campeões Europeus de 1987, o cidadão argelino continua a preencher o imaginário portista, numa relação que o próprio Rabah, hoje nos seus 49 anos, nutre com todo o carinho. "O Porto é o meu clube do coração e Portugal o meu segundo país",diz Madjer.
Contactado no Qatar, Rabah Madjer soube da iniciativa do "JN" que o elegeu como autor do golo mais belo, histórico e mítico do F. C. Porto, que foi o célebre "calcanhar de Viena". O agora comentador de futebol do canal de televisão Al Jazeera recebeu a nomeação "com muito orgulho".
JN|Como comenta o facto de o seu golo ao Bayern de Munique, em Viena, ter sido eleito o mais belo e simbólico a história do F. C. Porto?
Rabah Madjer|Nem sabe a alegria que me estão a dar. Fico muito orgulhoso por saber que vocês, jornalistas, e adeptos do F. C. Porto me elegeram como autor do golo mais importante da vida de um grande clube mundial, que guardo no coração para sempre. Fico muito feliz, por mim e pelo adeptos portistas, pelos quais nutro uma amizade muito especial. E isso só prova que o sentimento é recíproco. E fico contente porque, na história do F. C. Porto, feita de muitos milhares de golos, tantos e tão belos, foi o meu o eleito.
As recordações desse golão assaltam-o frequentemente?
Foi o lance que marcou a minha carreira e que hei-de recordar para sempre, até porque sei que também é um golo que muitos adeptos nunca esquecerão.
Mas tentar um golpe daqueles numa final da TCE foi arriscado, não? Olhe se falhasse...
Mas não falhei. Quando a bola me chegou, vinda do Juary, já tinha decidido que era daquela forma que tinha de marcar. Não hesitei e fui feliz. Naquele momento, foi Deus que me iluminou para marcar.
Foi um lance tão genial, que a história regista como "à Madjer" todos os golos que, daí em diante, foram obtidos de forma semelhante. Você é o dono da patente...
É claro que sinto um enorme orgulho quando, ainda hoje, ouço dizer que um jogador marcou "à Madjer". É um sinal de reconhecimento por tudo o que fiz na minha carreira. Sinto que fiz história e que deixei uma herança ao futebol.
O que mais recorda dessa brilhante final de Viena?
Recordo-me, também, da jogada que fiz para o segundo golo do Juary. E lembro-me daquela excelente jogada do Futre, que merecia acabar em golo. O Futre era um jogador genial. Foi, também, graças a ele e a uma grande equipa que fiz a carreira de fiz. Sem o Sousa, o Frasco, o André, o Jaime Magalhães, o Lima Pereira, o Gomes e tantos outros grandes jogadores - e não cito mais, para não ser injusto -, nunca teria feito a carreira que fiz. Foram eles que me ajudaram a brilhar e todos eles foram tão ou mais importantes do que eu para as grandes conquistas do F. C. Porto.
Actualmente, como vê o F. C. Porto?
Vejo-o, cada vez mais, como um grande clube mundial. O F. C. Porto é uma lição para o mundo do futebol. Continua a ter jogadores de top mundial, como o Quaresma, o Lucho, o Bruno Alves, o Lisandro e muitos mais, orientados por um bom treinador. E continua a ser comandado por dirigentes extraordinários, os mesmos que lhe deram envergadura e dimensão internacional.
A "talonnade" de Viena não foi um golpe fortuito, caído do céu. Foi um golo de autor, que Madjer repetiu três meses depois, em Agosto de 1987, logo na primeira jornada do campeonato. Foi num célebre jogo com o Belenenses, que chegou ao intervalo com 1-0 e acabou com uma segunda parte demolidora da equipa já orientada por Ivic. O jogo acabou com o F. C. Porto a ganhar por 7-1 e com o Estádio das Antas em delírio com mais uma obra de arte do argelino, que voltou a marcar de calcanhar, num "remake" de Viena. "Foi, também, um belo golo, que incluo naqueles que julgo terem sido os mais belos da minha carreira", diz o argelino. Além dessas duas "talonnades", Madjer elege outros três golões para formar o seu próprio "top cinco", sem preferência na ordem. O primeiro marcou- o ao Boavista, logo nos primeiros jogos pelo F. C. Porto. Foi em 1985 e no Estádio do Bessa, onde emendou, de primeira, na marca de penálti, um centro de Futre que pedia o golo da vitória (2-1) portista. O golo ao Penãrol, na final da Taça Intercontinental de 1987, concluído com um chapéu monumental, e um remate do meio-campo no estádio do Vardar (TCE de 1987/88) completam as melhores memórias do argelino.