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uando "Carros", que hoje estreia, foi inicialmente anunciado, muito cepticismo se levantou face ao novo projecto da Pixar. Depois de maravilhas como "À procura de Nemo" e "Os super-heróis", era difícil acreditar que um universo exclusivamente povoado por automóveis e objectos associados pudesse render a magia antropomórfica e os valores admiráveis dos filmes anteriores, mesmo que mantivesse a irrepreensível qualidade técnica.
Contudo, provando estar de facto anos-luz à frente da concorrência, a Pixar conseguiu erguer outra obra-prima de animação e, discutivelmente, o melhor filme que até agora chegou às salas este ano.
"Carros", que marca o regresso à realização de John Lasseter depois dos dois "Toy story", conta a história de Lightning McQueen (voz de Owen Wilson), um carro de corridas 'rookie' tão veloz quanto arrogante, que deita tudo a perder na última curva da Piston Cup e adia a decisão do título. No caminho para a derradeira corrida na Califórnia, porém, o jovem bólide perde-se e vai parar a uma pequena cidade quase abandonada, onde se assusta, provoca estragos, e é apreendido até refazer um pedaço de estrada. A cidade é Radiator Springs, outrora cheia de vida pelo movimento da famosa Route 66, mas obsoleta perante a construção das auto-estradas.
Doc Hudson (voz de Paul Newman) é um Hornet presidente da Câmara; Sally (Bonnie Hunt), uma 'yuppie' Porsche Carrera rendida aos encantos rurais. São duas de muitas personagens memoráveis que vão criar laços com Lightning, transformá-lo num carro com decência, e dar-lhe uma família num filme que, entre outras proezas impossíveis, consegue comover um espectador adulto com a nobreza de um veículo de quatro rodas.
Tecnicamente perfeito, com excelentes diálogos, pormenores e piadas geniais, e soberbo trabalho de vozes (obrigatório ver a versão original em Inglês), "Carros" é hilariante, inteligente e enternecedor. Quantos filmes andam por aí que se podem gabar de ter um terço disso?