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Os três graus de temperatura que a tarde domingueira ofereceu aos habitantes da freguesia de Penude não eram muito convidativos para encher o largo da igreja, onde se realizou o leilão dos cornos, mas o espaço até ficou composto. Corno é o nome dado a um bolo típico daquela freguesia do concelho de Lamego, que qualquer casa que se preze tem na mesa por altura das celebrações em honra do mártir S. Sebastião, ocorridas neste fim-de-semana.
Cerca das 15 horas, já o organista Quim-Zé cantava e "puxava" pelo pessoal. "Façam favor de se chegarem mais para lá, que me dão cabo das colunas", ironizava. Mas a distância do palco mantinha-se. Além de não dançarem, os presentes mais não faziam do que esfregar as mãos antes de as devolverem aos bolsos dos casacos. Uns poucos apoiavam-se no balcão do bar improvisado, cerveja ou copo de vinho na mão.
Arménio Silva, leiloeiro de serviço, subiu, então, ao palco improvisado numa carrinha. Atrás dele, 80 cornos esperavam por comprador. O mesmo destino se esperava para dezenas de garrafas de vinho e alguns quilos de fumeiro que habitantes doaram, para a comissão apurar mais alguns euros. "Há também gente de fora a oferecer coisas e a leiloar os cornos", adiantou Carlos Lopes, um mordomo. Um morador de Arneirós leva um saco cheio, um corno para cada filho.
"Ora, vamos lá ver se temos compradores para tudo", começou por apregoar Arménio, enquanto levantava o primeiro corno. "Está em oito euros, quem dá mais?", desafiava. Entre a assistência, atirava-se "Nove", "dez", (pausa), "11", "12". "Está em 12? três!", sentenciava o leiloeiro. Metido num saco, o corno era entregue rapidamente em troca do dinheiro prometido. Uns mais baratos, outros mais caros, os cornos lá iam sendo arrematados. "Geralmente, tiramos sempre por volta dos 1500 euros", revelou Carlos Lopes.
"Antigamente, vinha mais gente", recorda Manuel Teixeira, de 63 anos, "agora, a juventude já pouco quer saber disto". Até dava para fazer duas festas independentes, a de S. Pedro e a de S. Sebastião. Só que os interessados em organizar a segunda começaram a escassear. "Por ser no Inverno, tinham medo de não conseguir receitas para cobrir as despesas", explica. Por isso, deixou de se apostar tanto na festa dos cornos para investir mais na do verão. Mesmo assim, João Couceiro acha que "o pessoal não deve deixar morrer esta festa. É uma tradição bonita".