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J oão Moura, o professor universitário que preside à Câmara de Cantanhede, fala com indisfarçável orgulho do Biocant Park - Parque de Biotecnologia, mesmo quando refere o cepticismo de alguns autarcas que o têm visitado e perguntado "Porque é que uma Câmara se mete nisto? Isto não é mais para as universidades?" Apesar de compreender as dúvidas - justificadas até por não haver outra autarquia do país com o mesmo tipo de envolvimento na criação e funcionamento de um centro de investigação científica -, João Moura não vacila. Continua a defender que o Biocant Park foi o que de melhor poderia acontecer em Cantanhede, em prol de uma nova estratégia de desenvolvimento do município e da região.
Mas se ainda houver dúvidas sobre a relevância do único parque do país especializado em biotecnologia, decerto desaparecerão, definitivamente, amanhã. Ao segundo dia do seu Roteiro para a Ciência, o Presidente da República, Cavaco Silva, "carimbará" a importância do projecto, com uma visita às suas instalações. "É o reconhecimento da realidade que é o Biocant Park", congratula-se o presidente da Câmara de Cantanhede, sem esconder que se trata de um projecto idealizado, no final da década passada, pelo seu antecessor e colega e partido (PSD), Jorge Catarino.
Com uma área de oito hectares, o Biocant Park foi criado através da parceria da autarquia com o Centro de Neurociências da Universidade de Coimbra e com Associação Beira Atlântico. Mas a primeira é responsável por "mais de 95% do investimento" realizado e pelo pagamento do salário de alguns investigadores, afirma João Moura, que quer chegar a 2010 com "20 empresas da área da biotecnologia e 200 postos de trabalho altamente qualificados".
Amanhã, o Presidente da República inaugurará o segundo edifício do parque, onde serão instalados serviços administrativos e oito empresas. Algumas, como a Crioestaminal, que recolhe e preserva células estaminais recolhidas do cordão umbilical dos bebés, germinaram nas universidades de Coimbra e Aveiro. Outras provam de forma ainda mais evidente que é possível contrariar a chamada "fuga de cérebros" de Portugal "Duas foram criadas por jovens portugueses que vieram da Universidade do Texas, nos Estados Unidos, onde estiveram a fazer doutoramento", conta João Moura.
Mas, nos laboratórios do primeiro edifício do Biocant Park, inaugurado a 12 de Setembro do ano passado, já trabalham 25 investigadores, maioritariamente provenientes das universidades de Coimbra e Aveiro. Encontraram-se em "terreno neutro", graceja o director do parque, António Teixeira. O presidente da Câmara observa antes que "duas universidades nunca devem estar de costas voltadas"? Seja como for, é no Biocant Park, entre Aveiro e Coimbra, que desenvolvem, por exemplo, um "chip" para detectar precocemente a patologia cardíaca que se supõe ter vitimado o futebolista Fehèr, ou procuram novos tratamentos para a doença de Alzheimer.