Retrato biográfico e documental do homem e da época.
Corpo do artigo
Para lá da vertente ficcional que mais facilmente associamos à banda desenhada, esta assume recorrentemente outros registos, entre os quais se destaca o histórico, a adaptação literária ou o biográfico/ documental, como acontece em "O perigoso pacifista".
Coedição de A Seita e do Centro Artístico Cultural e Desportivo Adriano Correia de Oliveira, traça uma biografia do músico e cantor, desde o nascimento no Porto até à morte - embora a sua música lhe tenha garantido a imortalidade.
Num tom leve e saltitante, que torna a leitura agradável e fluida, o argumentista improvisado, Paulo Vaz de Carvalho, que privou com Adriano Correia de Oliveira e o acompanhou em muitos concertos, evoca através das próprias memórias, ou das que outros lhe confiaram, os tempos estudantis em Coimbra, a resistência à ditadura, as perseguições pela PIDE ou os nomes da música que privaram com ele, como Vitorino, Fausto, Carlos Paredes, José Cid ou José Afonso.
Ao lembrar um percurso único e atribulado, este álbum funciona não só em termos biográficos mas também como documento sociológico de uma época não tão distante no tempo, mas que aos olhos de hoje parece longínqua. Dessa forma, além das vicissitudes próprias de tempos diferentes, são invocados os artifícios e as ações clandestinas necessários para contornar a censura e os riscos de prisão, deportação e exílio.
O desenho foi assumido por João Mascarenhas, criador de "O menino triste", que com um traço semi-caricatural consegue não só recriar de forma credível os diversos locais por onde Adriano passou como sobretudo traçar retratos facilmente identificáveis dos diversos nomes sonantes nele mostrados, um contributo para uma leitura empática por parte daqueles que viveram esses tempos ou têm ainda na memória os seus protagonistas.
Por outro lado, Mascarenhas, graças ao dinamismo que impõe ao traço e à planificação diversificada, contribui para diluir a informação documental que existe e é partilhada, sem que ela afete o ritmo narrativo.
Nas páginas finais ficam breves apontamentos biográficos dos principais intervenientes e uma evocação mais longa de Adriano.
O perigoso pacifista
Paulo Vaz de Carvalho e João Mascarenhas
A Seita