Escritor homenageado na 10.ª edição do festival literário esteve, esta sexta-feira, em Penafiel
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"Escrever é usar as palavras que se guardaram: se tu falares de mais, já não escreves, porque não te resta nada para dizer". É com esta frase, retirada do livro "No teu deserto", que Miguel Sousa Tavares fica imortalizado em Penafiel, cidade que até domingo acolhe a Escritaria, festival literário que, na 10.ª edição, homenageia um dos autores mais influentes em Portugal.
Mas antes de descerrar a frase forjada numa peça de ferro colocada no Jardim dos Namorados, Sousa Tavares sensibilizou-se, sorriu e ficou surpreendido com o que encontrou por terras durienses. Rodeado de coelhos saídos do universo de "Ismael e Chopin", o homenageado da Escritaria 2017 percorreu a principal avenida de Penafiel e, a cada passo, não conseguiu esconder a estupefação por encontrar o seu retrato e diferentes referências à sua obra espalhadas pelas montras das lojas e cafés. Pelo caminho também parou para contemplar os painéis desenhados por alunos locais, com os quais conversou e a quem agradeceu.
Desarmado pelos afetos, o autor de "Equador" até entrou na pastelaria para voltar a conversar com os coelhos e foi ao interior de uma joalharia para, ao jeito de Marcelo Rebelo de Sousa, tirar uma selfie com a proprietária.
Sempre espantado com o que via, Miguel Sousa Tavares várias vezes foi ao bolso resgatar o telemóvel com o qual tirou fotografias aos pendões com a sua imagem colocados ao longo da principal artéria da cidade. E nem foi preciso ouvir uma lojista classificá-lo como "grande portista" para confirmar o que minutos antes tinha antecipado. "Espero mostrar que não é só o presidente que tem o monopólio dos afetos e que eu também os posso ter", disse. Mais a sério, o escritor defendeu que eventos como a Escritaria "cumprem a função de mostrar aos leitores que os autores existem e não são pessoas fechadas em torres de marfim". "Nunca fui, nem quero ser um escritor fechado numa torre de marfim", complementou.
A Escritaria prossegue até domingo com exposições, teatro de rua e música. Há ainda uma entrevista ao homenageado por Júlio Magalhães e uma conferência sobre a vida e obra de Sousa Tavares apresentada por João Céu e Silva. Ambas as iniciativas decorrerão no Museu Municipal.