Jorge Pelicano estreou em Portugal o filme sobre a relação de Eulália Almeida e Sydney, emigrante na Alemanha que se tornou ator pornográfico.
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"Que a morte venha porque já não posso mais". A frase é duríssima e foi escrita por Eulália, dirigida a Sydney, depois de saber da real carreira do filho no cinema para adultos gay. É esse difícil processo, da rejeição à aceitação e conformação, o tema central do novo documentário de Jorge Pelicano, "Até que o porno nos separe", que estreou em Portugal no Festival Caminhos do Cinema Português, no Teatro Académico de Gil Vicente, em Coimbra.
Sydney, emigrante na Alemanha, tornou-se numa estrela pornográfica. Eulália Almeida, uma mãe conservadora do Porto, em 2013, descobriu a profissão de Sydney Fernandes (ou Fostter Riviera, o nome artístico). A narrativa do filme descobre ambos enquanto se debatem, entre a repulsa, a abdicação e o amor.
"Este filme nasce a partir de duas ideias: uma mais antiga, sobre o impacto dos pais em determinadas escolhas dos filhos. Recentemente, quando o mundo da pornografia portuguesa começou a ficar mais mediático, comecei a ficar interessado no tema. Mas não queria fazer um documentário sobre os bastidores da pornografia em Portugal, queria ter uma abordagem diferente", descreve Jorge Pelicano, apontando que a produção conheceu Eulália num processo de transformação. "O filme retrata isso. Como a mãe teve de se readaptar para poder aceitar o filho. A pornografia é o ponto de partida, o tema é o amor entre mãe e filho", completa.
Amor incondicional
"Ela soube por uma amiga e foi a última pessoa a saber. Isso marcou-a muito", lembra Jorge Pelicano.
Eulália foi filmada entre maio de 2016 e março de 2017, e o filme vai mostrando a dinâmica relacional entre os dois, com as redes sociais de permeio.
Para acompanhar Sydney, Eulália, atualmente com 67 anos, aprendeu a perceber as redes sociais e a falar inglês, para poder perceber os posts do filho. "Pesquisou muito sobre a homossexualidade, sobre a pornografia, aprendeu a trabalhar com computadores, foi um caminho que fez muito sozinha", revela Jorge Pelicano, ressalvando a disponibilidade de ambos para contar a história. "O Sydney nunca influenciou a mãe, disse-lhe sempre para ser sincera durante o processo", aponta.
"Até que o porno nos separe" foi exibido em Coimbra e em dois festivais, um na Argentina e outro na República Checa. Está já confirmada a sua exibição num festival de cariz LGBT em Amesterdão em março de 2019. Jorge Pelicano espera tê-lo em exibição nas salas no primeiro trimestre do próximo ano.
Com três documentários premiados internacionalmente, Jorge Pelicano foi repórter de imagem da SIC e é hoje documentarista. Realizou "Ainda há pastores"(2006), "Pare, escute, olhe"(2009) e "Para-me de repente o pensamento". (2015).
"As fobias também se perdem"
"Hoje sou uma mãe diferente. Amo incondicionalmente o meu filho e quis mostrar à sociedade que as fobias também se perdem", confessou Eulália Almeida, no final da exibição de "Até que o porno nos separe". Eulália começou por não aceitar a vida que Sydney fazia na Alemanha e demonstrou-o várias vezes, através de mensagens que lhe enviava para o Facebook, mas acabou, aos poucos, por a aceitar. Recentemente, Eulália até participou em manifestações LGBT no Porto. "Tenho um filho com um coração maravilhoso".