"Existe uma grande apetência para este tipo de BD", refere a editora A Seita. "A tendência noutros países, tornou-se mais relevante em Portugal nos últimos dois anos", diz a ASA.
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Durante anos nicho de mercado, a edição de banda desenhada japonesa (manga) tem vindo a crescer em todos os grandes mercados. Portugal não é exceção e os meses recentes ficam marcados pela entrada de várias editoras num mercado que na última década era quase exclusivo da Devir.
A diversidade é ótima para o mercado, diz a Devir ao JN. "A concorrência é benéfica, ajuda a melhorar, permite maior abertura do mercado e maior variedade na oferta ao leitor". E mais: "Foi uma aposta do editor, e da empresa, numa altura em que ainda não se ouvia falar deste género". Hoje, no catálogo da Devir há obras de referência como "Death note" ou campeões de vendas como "Naruto".
Não admira a aposta da editora ASA num género que "é claramente uma tendência noutros países e se tornou mais relevante em Portugal nos últimos dois anos", tal como a editora A Seita constatou ao "falar com os livreiros, ficando com a clara noção de que existe uma grande apetência".
Se o termo manga designa originalmente os quadradinhos japoneses, rapidamente se tornou sinónimo de um estilo com características próprias, facilmente identificáveis: pequenos livros de 200 páginas a preto e branco e preço a rondar os 10 euros, com personagens de olhos grandes, muitas linhas de movimento, um grande dinamismo narrativo e histórias intermináveis, muitas vezes associadas às versões em anime.
O sentido de leitura da direita para a esquerda, originalmente fez confusão a muitos leitores e levou as editoras a alterá-lo para o sistema ocidental. Hoje, revela ao JN A Seita, "a questão não se coloca, é no geral uma imposição do editor", o que é corroborado pela ASA que "respeita as opções originais dos autores, já que os leitores portugueses parecem perfeitamente familiarizados com ambos os sentidos de leitura".
A popularização do género levou à sua assimilação noutras paragens. As apostas da Gradiva são europeias: "Responder a um desafio novo é uma experiência singular e vibrante". A primeira escolha, "City Hall", "envolve figuras da literatura e este mês arrancam dois novos títulos cujas histórias se passam nos e-sports e nos videojogos".
Manhwa: manga coreana
A Editorial Presença, por seu lado, optou por "trazer para Portugal o maior fenómeno de manhwa (BD coreana) do momento, "Solo leveling", com ilustrações a cores", prometendo "novidades em 2023".
A história demonstra que a BD que se lê é uma questão geracional: "O mosquito" e o "Mundo de aventuras" popularizaram clássicos americanos, do "Cavaleiro andante" à "Tintin" prevaleceram os heróis franco-belgas, e a partir dos anos 80 imperaram os super-heróis dos EUA.
Agora, é a vez do manga, e a Devir relembra duas divisões do género: "Shonen, dos 8 aos 16 anos, e Seinen, dos 17 aos 30", confirmadas pela Gradiva que tem "a perceção de que são as camadas mais jovens a ler manga". A ASA alarga o seu público-alvo "até aos 40 e muitos" e A Seita relembra uma das potencialidades da manga: chegar "a um público feminino" mas reiterando a "ambição de poder conquistar leitores fãs de comics ou do eixo franco-belga".
Primeira edição portuguesa saiu há 15 anos
Há 15 anos, a editora Pedra no Charco anunciava "Bang Bang", de Hugo Teixeira, como "o primeiro livro em estilo manga de um autor português". Hoje, nas livrarias encontram-se títulos como "The Mighty Gang", de Joana Rosa, ou "Crónicas de Enerelis", de Patrícia Costa. Ao JN, esta autora revelou que a sua "opção por este grafismo vem dos animes que via nos anos 90, com cadernos ao lado para replicar as personagens". Mais tarde, "comecei a ler manga" e, seduzida pelo grafismo e "pelas estruturas narrativas diferentes, acabei por assimilar algumas características no meu desenho, para criar Enerelis, um dos mundos paralelos à Terra, povoado por raças e criaturas que nasceram graças à existência de duas forças opostas". E se Patrícia Costa optou pela autoedição, A Seita "vai lançar no Amadora BD "Quero voar", da "mangaka" portuguesa, Kachisou. E estamos abertos a todas as propostas de BD portuguesa", diz fonte da editora A Seita.