Nome incontornável da banda desenhada portuguesa, João Paulo Cotrim, jornalista e editor, fundador da editora Abysmo e diretor da Bedeteca de Lisboa, morreu este domingo com covid-19, confirmou o JN. Tinha 56 anos.
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Natural de Lisboa, João Paulo Cotrim começou a trabalhar como jornalista aos 20 anos, na ANOP. Depois, passou pelo Expresso, O Independente, a Cosmopolitan, a Revista Ler, a Elle, a Máxima, a Marie Claire, a Oceanos, a Visão, a Grande Reportagem, a Colóquio-Letras, o diário alemão "Der Spiegel", o "Le Monde" e o suplemento "DNA". Colaborou também com a RTP, a SIC e a TSF.
Fundou a revista Lua Cheia e as editoras Abysmo, com quase cem livros publicados (com autores como Valério Romão, Sérgio Godinho, António Araújo, Ferreira Fernandes ou Adolfo Luxúria Canibal), e Arranha-Céus, mais dedicada às artes visuais e à banda desenhada.
"Temos uma tradição muito forte, com nomes como Stuart de Carvalhais, Almada Negreiros e Bordallo Pinheiro, que em determinada altura não era valorizada. Depois houve uma geração que se afirmou nos anos 1960 e 1970, na era dourada dos quadradinhos. Mas deparei-me com uma nova geração de autores que não tinha onde publicar e foi aí que comecei a sonhar em montar uma editora", afirmou, em 2018, à "Notícias Magazine", para justificar o impulso definitivo que deu a uma nova geração de autores.
Dirigiu a Bedeteca de Lisboa desde a sua abertura, em 1996 - o mesmo ano em que criou a revista LX Comics - , até 2002. Durante esse período organizou várias iniciativas e exposições.
Foi diretor do Salão Lisboa de Ilustração e Banda Desenhada durante quatro edições e responsável pela sua programação e os catálogos Geral e da mostra Ilustração Portuguesa.
Guionista para filmes de animação («Algo importante», com João Fazenda; «Um degrau pode ser um mundo», com Daniel Lima; «Diário de Uma Inspetora do Livro dos Recordes», com Tiago Albuquerque), escreveu novelas gráficas ("Salazar - Agora, na Hora da Sua Morte"), ensaios ("O Branco das Sombras Chinesas", com António Cabrita), poesia ("Má Raça", com Alex Gozblau) e histórias para crianças ("Querer Muito", com André da Loba) e adultos ("O Branco das Sombras Chinesas", com António Cabrita).
João Paulo Cotrim foi ainda professor no Ar Co, no departamento de Ilustração e BD, bem como no IADE - Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação, e colaborou no Instituto Português do Livro e das Bibliotecas (IPLB).
No seguimento do confinamento imposto pela pandemia de covid-19, João Paulo Cotrim criou, em 2020, "Torpor. Passos de voluptuosa dança na travagem brusca", uma revista digital gratuita criada e disponibilizada pela editora Abysmo.
A edição procura captar o efeito que a crise pandémica e o confinamento tiveram "tanto nas artes como na vida", uma iniciativa que não foi planeada previamente, "resultou de sucessivos diletantes passeios pelas redes", nas quais João Paulo Cotrim descobriu um mundo que palpitava criação artística, contou o editor à Lusa, em maio do ano passado.
O romance "O Plantador de Abóboras", do escritor timorense Luís Cardoso, que venceu o Prémio Oceanos 2021, que anualmente destaca as melhores obras publicadas em língua portuguesa, foi um dos livros editados pela Abismo.
A 8 de dezembro, o escritor, que reside em Lisboa, dedicou o galardão ao seu editor, João Paulo Cotrim, assinalando já então que se encontrava doente.
Nas redes sociais, como o Facebook, multiplicam-se as despedidas e homenagens de autores e companheiros da carreira artística de João Paulo Cotrim. André Carrilho, Alexandra Lucas Coelho, José Teófilo Duarte e Bárbara Bulhosa foram alguns que assinalaram esta partida.