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O músico espanhol Patxi Andión morreu, esta quarta-feira, aos 72 anos
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O cantor e compositor Patxi Joseba Andión, artisticamente conhecido como Patxi Andión, morreu esta quarta-feira num acidente de carro na estrada A-15 em Soria, quando o seu Land Rover saiu da estrada, informou o "El Pais".
Patxi Andion - também sociólogo, ator e escritor- era seguramente o mais português dos cantautores espanhóis. O título não lhe era atribuído de forma leviana: declarou sempre o seu amor à língua e pátria portuguesas e, durante 50 anos, atuou regularmente em Portugal. O último deles foi no Porto, a 22 de setembro, na Casa da Música.
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Autor de de canções para várias estrelas portuguesas, como Ana Moura ou Mariza, foi um artista que escolheu sempre a resistência política e cultivou amizades com nomes como Zeca Afonso. Era também amigo do fadista português Ricardo Ribeiro, com quem cantou na útlima digressão portuguesa.
Nas duas primeiras vezes que tentou atuar em Portugal, acabou expulso. A primeira, em 1969, fazia a primeira parte do concerto de Manolo Diaz e acabou por ser levado pela PIDE e deixado na fronteira espanhola. Na segunda, em 1971, participava no programa da RTP "Zip Zip", quando foi forçado a fazer o mesmo trajeto. "Nunca me deram nenhuma explicação, porque a polícia política nunca dá explicações a ninguém, tal como estava tal me levaram", confessou em entrevista ao JN, em setembro.
O seu último trabalho, lançado em novembro, " La hora Lobican", refletia preocupações sociais e políticas. "A hora Lobican é uma expressão muito usada nas Astúrias e na Galiza, para aqueles momentos ao amanhecer ou ao anoitecer em que não se consegue distinguir o lobo do cão. Continuamos a ter inimigos, mas eles não estão visíveis e temos metas que parecem irresolúveis como a imigração, a água, a violência machista ", explicou nessa altura ao JN. Tinha previsto editar um outro disco no final de 2020.
Dizia que, quando tinha 20 anos a sua música era mais direta, mas agora, como estava mais refinado nas palavras, tinha perdido um pouco da sua ação e encontrava em Portugal um excelente refúgio. "As gentes de Portugal são uma maravilha, e para um país como o meu - bruto, tosco e duro - há uma incompreensão muito grande em relação a Portugal. E não me refiro à alta cultura portuguesa, mas ao povo. A prova disso é por exemplo a canção "Veinte aniversario", uma canção dita mais sensível, mais intima, que só é um êxito em Portugal".
Em 2014, o músico gravou em Portugal o seu primeiro álbum gravado ao vivo, "Cuatro Días de Mayo". Em dezembro de 2013, apresentou o álbum "Porvenir", na Casa da Música e no Centro Cultural de Belém, em dois concertos esgotados. Nesse mesmo ano, fez parte do álbum "O Fado e a Alma Portuguesa", editado no âmbito dos 125 anos do nascimento de Fernando Pessoa.
Em 2007, participou no álbum "Para além da saudade", da fadista Ana Moura, produzido por Jorge Fernando.
Dez anos depois, Patxi Andión atuou em três palcos nacionais, numa homenagem a José Afonso, "Zeca no Coração", que passou por Lisboa, Porto e Évora.
