Documentário "Uma dose mortal: Dentro da crise do Fentanil" mergulha no terror da atual epidemia dos opiáceos na América do Norte. Para ver na RTP Play.
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"Fentanil puro? É fogo. É o terror mais horrível que possas imaginar. Parece que algo está lentamente a sugar-te a força vital". As palavras são de um viciado em Fentanil, a droga que nos últimos anos tem flagelado a América do Norte, provocando anualmente mais vítimas do que as guerras do Vietname, Iraque e Afeganistão juntas. Só nos EUA, em 2021, registaram-se 100 mil overdoses fatais. Um inferno na Terra que o documentário "Uma dose mortal: Dentro da crise do Fentanil", de Dominic Streeter, disponível na RTP Play, visita numa jornada arrepiante.
Pense-se no que era o Casal Ventoso, em Lisboa, ou o "Vale dos leprosos", no Bairro S. João de Deus, no Porto, e aumente-se a escala e a sordidez (se isso for possível): eis o cenário de Downtown East Side, em Vancouver, Canadá, considerada uma das três melhores cidades do Mundo para viver. Neste paraíso há um cancro - que mata às dezenas por semana.
Um "dealer" explica que com um investimento de 400 dólares é possível faturar 100 mil. "Vamos à darkweb e mandamos vir a droga da China. Somos nós que a preparamos, transformando 30 gramas em mil, com a mistura de heroína, laxantes para bebés e açúcares".
Fentanil é um tranquilizante para elefantes, 100 vezes mais potente que a morfina, duas miligramas de Fentanil puro liquidam qualquer adulto. É mais barato e fácil de traficar que a heroína. Tem cores e formas variadas. A receita é inconsistente, feita às três pancadas. Prince foi um dos que tombou ao tomar Fentanil. Perguntam a uma junkie qual a sensação: "É um grande abraço, um lugar acolhedor onde nada te pode magoar". E a outro, enquanto se injeta: "Odeio a minha vida. Não desejo isto a ninguém".
m Downtown East Side há voluntários que percorrem as ruas com doses de Narcan, fármaco que estanca os efeitos do Fentanil e salva vidas. Em Portugal há notícia, desde 2018, de que o Fentanil, que é usado em procedimentos médicos desde 1967, circula ilegalmente na noite. Um ex-agarrado, em Vancouver, diz que sabe exatamente o que esperar em qualquer lugar do Mundo a que a substância chegue: "Morte, uma mortandade imensa".