"O senhorio não aguarda pelo coronavírus". O alerta vem de Rui Oliveira, um ator profissional há mais de 30 anos que viu a sua preenchida agenda de março e abril desaparecer em dois dias. Tudo somado, é um prejuízo de mais de dois mil euros. O ator, assim como muitos dos seus colegas, "não são falsos recibos verdes". Têm vários clientes a quem prestam serviços pontuais e, se ele não acontecer, não ganham.
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O problema agudiza-se porque muitas vezes não há quem responsabilizar. Boa parte dos seus rendimentos vêm da bilheteira e se não houver espetáculos não podem pedir o dinheiro a ninguém.
Mais sorte teve para já Ana Pinhal, fadista, que apesar de ter um concerto cancelado, a entidade que a contratou disponibilizou -se para pagar o valor acordado. A companhia Musicalmente, que tinha agendados uma série de concertos para bebés, alertou também: "Os artistas, em especial os das artes performativas, conhecem bem as consequências que uma situação como esta lhes provoca. A história ensinou-lhes que são os primeiros a verem a injusta e permanente ausência de direitos juntar-se a outros dramas".
Colapso iminente
As pequenas e médias estruturas teatrais não sabem como vão ser recompensadas dos seus espetáculos que foram cancelados, uma vez que dependem apenas das receitas de bilheteira e não têm qualquer apoio ou subsídio estatal. E temem o colapso. "Basicamente estamos todos sem trabalho e sem qualquer tipo de apoio", diz ao JN Rita Fernandes, atriz e diretora da Companhia de Esquina.
No mesmo sentido, Ricardo Barceló, da companhia de teatro Umbigo, que perdeu todos os espetáculos de março, está também muito preocupado. "Não temos apoio, não temos salário, não temos subsídios, não temos nada".
À medida que as salas de espetáculos foram encerradas e os eventos cancelados, os trabalhadores precários do setor sentem o futuro comprometido. "A situação do teatro em Portugal é muito frágil. A conjuntura só veio tornar mais visível essa mesma fragilidade", lembrou Rui Madeira, diretor da Companhia de Teatro de Braga, cuja programação também foi cancelada.
Idêntica dúvida se coloca a Pedro Alves, do Teatro Mosca. "Fomos obrigados a encerrar a atividade em março. Tínhamos programado espetáculos de teatro com companhias que vinham da Bélgica e do Brasil. Já tínhamos feito investimento na compra de passagens de avião, no pagamento de hotéis, aluguer de carrinhas, enfim, toda a logística associada à produção", adianta.
Preocupada com a situação a Plateia - Associação de Artes Cénicas, pela voz de um dos seus dirigentes, Carlos Costa, embora reconheça que não tem ainda dados suficientes para aferir o efeito que a situação irá ter a muito curto prazo, lembra que o "impacto causado é transversal" e que, por isso mesmo "torna-se uma questão política e como tal terá de ser encarada". v
Todos os museus, monumentos e palácios nacionais sob a tutela da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC) estão encerrados. A medida abrange o Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém, em Lisboa, o Palácio Nacional de Mafra, os mosteiros da Batalha e de Alcobaça e o Convento de Cristo, em Tomar, monumentos inscritos na lista do património mundial da UNESCO, e os museus nacionais, além do Panteão Nacional, do Palácio Nacional da Ajuda, da Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves e do Museu de Arte Popular, também na capital portuguesa. O Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), em Lisboa, anunciou também o seu encerramento, nas redes sociais, "para prevenção e salvaguarda da saúde pública", enquanto o Museu Nacional dos Coches e Picadeiro Real e o Museu Nacional do Azulejo se encontravam já na lista de instituições fechadas da DGPC. Estes três museus de Lisboa lideram, historicamente, a lista dos mais visitados da DGPC a nível nacional. O Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto, estava já encerrado temporariamente para obras. Alista completa dos espaços do Estado que foram encerrados está publicada no site da DGPC.