Três anos depois, festival regressa ao Parque da Cidade, no Porto, para três dias com mais de 60 atuações, entre consagrados e emergentes.
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Talvez até as garças e os galeirões tivessem saudades. Três anos depois do último amplificador ser desligado, o maior parque urbano do país volta a acolher o Nos Primavera Sound, que irá dispor mais de 60 propostas musicais em cinco palcos ao longo de três dias. Há nomes garrafais para cada jornada e jóias recém lapidadas para descobrir. Haverá público oriundo de mais de 30 países. Uma nova configuração nalguns espaços - entradas, zona de restauração - em virtude das obras de ampliação do parque. E uma vontade indestrutível de gozar a música naquele cenário de bosques, prados e oceano. Se não comprou bilhete, a única hipótese que lhe resta é sexta-feira, tudo o resto já esgotou.
"É uma súmula de três anos de interregno." Assim define a edição 2022 o diretor do festival, José Barreiro, que quis retomar a atividade sem grandes alterações: "Este é um evento mundialmente reconhecido, quisemos mudar o menos possível. Até se pode dizer que o cartaz é conservador. É um best of, com grandes nomes consagrados na área do pop/rock. Teriam lugar em qualquer edição do festival." Além das armas pesadas, como Nick Cave, Beck, Pavement ou Gorillaz, haverá as habituais surpresas de final de tarde e uma continuada aposta na diversidade. "Temos o nosso público mais antigo, mas pensamos sempre nas novas gerações - estará cá, por exemplo, a próxima bomba do reggaeton, o Jhay Cortez."
Outras novidades crepitantes apontadas pelo diretor formam esse arco de diversidade cultivado pelo Primavera: o hyperpop e experimentalismo dos 100 gecs; a pop sintética de Sky Ferreira, americana com ascendência portuguesa; a visão cubista de Rina Sawayama, cantora britânica e japonesa; a soul entrelaçada com hip-hop de Jamila Woods; ou a pop sonhadora e ambiental de Caroline Polachek. Uma constelação que parece fazer eco da última edição do Primavera, marcada pelo conceito de "nova normalidade", em que o cartaz refletia uma paridade rigorosa: metade homens, metade mulheres.
Seguiu-se outra "nova normalidade", a que fez calar a música e reter o público em casa, e as sequelas chegam a 2022, diz Barreiro: "Não tivemos problemas com a mão-de-obra porque trabalhamos com empresas grandes, mas houve uma grande sangria no setor. E a montagem deste festival ficou 25% mais cara relativamente ao último. Os custos de transporte aumentaram e as matérias-primas que mais usamos, o ferro e a madeira, também subiram de preço, até por causa da guerra na Ucrânia". Tudo coisas para esquecer nos próximos três dias. Porque a música voltou ao Parque da Cidade.
Cartaz com gigantes e pepitas recentes
Nick Cave and The Bad Seeds
Palco Nos, dia 9, 21.20 horas
Deu um concerto épico à chuva neste mesmo local em 2018. A mesma epicidade e menos chuva seria o ideal. No dia seguinte ao concerto, será lançado o seu último trabalho, "Seven psalms", disco de spoken word. Por entre os clássicos, talvez se rezem uns salmos.
Tame Impala
Palco Nos, dia 9, 00.50 horas
Nome axial do revivalismo psicadélico, os australianos andam finalmente a apresentar "Slow rush", álbum de 2020 acolhido com entusiasmo crítico e sucesso comercial. Melodias espaciais para fechar a primeira noite do festival.
Pavement
Palco Nos, dia 10, 00.45 horas
Gigante hibernado do rock alternativo, o grupo da Califórnia irá apresentar-se ao vivo pela segunda vez em 12 anos. A primeira foi no último Primavera de Barcelona. Sem repertório novo, haverá muito clássico a repescar em álbuns como "Slanted and enchanted" ou "Wowee zowee".
Rina Sawayama
Palco Cupra, dia 10, 19 horas
Com canções que juntam universos aparentemente inconciliáveis, com o R&B, nu metal ou electro pop, a cantora nipónica e britânica será uma dessas gemas que se descobrem ao crepúsculo.
Gorillaz
Palco Nos, dia 11, 1 hora
A banda virtual criada em 1998 por Damon Albarn irá protagonizar um dos momentos mais imprevisíveis do festival - como será a atuação dos bonecos animados? Na bagagem trazem o mais recente trabalho, "Song machine", que se foi revelando por capítulos entre 2019 e 2020.
Khruangbin
Palco Cupra, dia 11, 19 horas
Estrearam-se em Portugal em 2019, no Festival Paredes de Coura, com um magnífico concerto de final de tarde. Produzem mistura inebriante de muzak, funk e psicadelismo. Permite dançar e relaxar alternadamente.