A fadista portuguesa Ana Moura fará, nesta sexta-feira, a sua primeira apresentação no Brasil, ao lado do músico Gilberto Gil, para a abertura da terceira edição do maior festival de música negra da América Latina, o Back2black.
Corpo do artigo
"O convite deixou-me muito feliz. Gosto muito do conceito e para mim diz muito, porque venho de uma família negra, de origem angolana, então cresci sobre a influência dessa cultura", afirmou a cantora à Lusa.
O evento, que ocorre no Rio de Janeiro entre os dias 26 e 28 de Agosto, foi idealizado como um espaço para debates e apresentações ligadas à cultura africana e afro-brasileira, mas também explora outros géneros musicais.
No concerto de abertura, Ana cantará em dueto com o músico brasileiro Gilberto Gil, quem, depois de ter sido ministro da Cultura no governo Lula da Silva, voltou aos palcos e continua a ser um dos principais compositores negros do país.
Segundo Ana, algumas músicas de Gil, incluídas no repertório de sexta-feira, receberam uma "roupagem fadista", especialmente para a apresentação, a primeira da cantora em terras brasileiras.
"Eu já havia recebido outros convites para tocar no Brasil, mas infelizmente coincidiram com outros compromissos que tinha na altura e finalmente conseguimos agora com o festival", comentou Ana que disse ter contacto com os fãs brasileiros por meio do Facebook.
"Através da Internet tenho a possibilidade de sentir um pouco o meu público aqui, que sempre me pede que venha ao Brasil. Espero [durante o concerto] ser acarinhada por esse público", exprimiu a cantora sobre a sua expectativa.
Ana chegou ao Rio na última segunda-feira e cumpre uma agenda apertada, entre solicitações da imprensa brasileira e ensaios com os músicos para o grande dia.
Ainda na sexta, a banda Tinariwen -- grupo composto por tuaregues, etnia nómada do Saara africano -- apresentará ao público carioca seu trabalho, seguida da cantora e actriz norte-americana Macy Gray.
Os concertos terão lugar no prédio centenário da extinta estação ferroviária da Leopoldina, no Centro, que ganhou uma ambientação especial, assinada pelos artistas Sérgio Marimba e os irmãos Gustavo e Otávio Pandolfo (OsGêmeos), referências mundiais em arte urbana.
No sábado, será a vez da banda de Mali Oumou Sangaré, seguida da norte-americana ganhadora de dez prémios Grammy, Chaka Khan.
No terceiro e último, o público carioca poderá conferir os trabalhados do estadunidense Aloe Blacc, do brasileiro Seu Jorge e da cantora nigeriana ASA.
Além dos "shows", o festival conta com uma programação de debates relacionados com povos da cultura negra no mundo.
Na primeira mesa, "Democratização, não-violência e redes sociais", serão tratados os recentes movimentos de democratização nos países do norte da África. A ideia, segundo os organizadores, é fazer uma abordagem comparativa com os movimentos que na década de 1950 conduziram à independência dos países africanos.
O debate contará com a participação, via tele-conferencia, do activista egípcio Wael Ghonim, eleito pela revista Times uma das cem pessoas mais influentes de 2011. Ghonim recebeu o título por ter mobilizado os jovens egípcios, através do Facebook, para as manifestações que acabaram na deposição do ditador Hosni Mubarak.
O cantor Prince, anunciado inicialmente como a principal atracção do festival, cancelou sua participação esta semana. A organização do evento informou que o brasileiro Jorge Ben Jor será o seu substituto e ofereceu o reembolso do valor dos bilhetes para os fãs que não quiserem acompanhar a nova atracção.