A vida regressou ao normal em Macau, mesmo nas zonas baixas de cidade, as mais afetadas pela passagem do supertufão Ragasa, onde algumas lojas abriram para aproveitar a passagem de muitos residentes que já saíram às ruas.
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Muitos donos e empregados de lojas e negócios na zona do porto interior estavam ainda a escoar a água das inundações, que em algumas zonas chegou ao metro e meio de altura, mas o ambiente era já de quase "normalidade", pouco mais de uma hora depois de ser reduzido o nível mais alto do alerta de tempestade, de 10 para 8.
A escala de alerta de tempestades tropicais é formada pelos sinais 1, 3, 8, 9 e 10, com a emissão a depender da proximidade da tempestade e da intensidade do vento.
Cadeiras e sofás invadiram as ruas, algum mobiliário também, enquanto alguém protestava da ineficácia dos tapumes, supostamente impermeáveis, de proteção dos espaços interiores, que na maior parte das lojas e negócios deixaram a água subir ao nível da marca deixada nas paredes dos edifícios.
Num viveiro de peixes - o pescado vende-se na Ásia muitas vezes ainda vivo - a água tinha chegado quase ao bordo dos tanques vazios. "Tinham peixe? Sim. Regressaram ao mar", respondeu com gestos um jovem com um rodo nas mãos.
Boa disposição, calma, "tudo normal, como de costume", era a mensagem que legendava a azáfama de limpeza, mais de cinco horas antes da normalidade ser antecipada pela Direção dos Serviços Meteorológicos e Geofísicos de Macau (DSMG), que anunciou prever a redução do alerta de tempestade para o nível 3 às 21 horas locais, mais sete do que em Lisboa.
O número de ocorrências a que a proteção civil foi chamada a atender durante a fase mais intensa da passagem do Ragasa, até às 16 horas, não chegou às duas centenas, mais de metade das quais relacionadas com a remoção de objetos derrubados ou em risco de derrube, mas também dez casos de retenção no elevador.
Às 16 horas, e com o olho a passar a 140 quilómetros a sudoeste de Macau, o Ragasa baixou da intensidade máxima para tufão severo, e as autoridades baixaram o alerta de tempestade para terceiro nível mais elevado, o 8.
Antes já haviam reduzido o alerta de maré de tempestade, ou 'storm surge' [aumento anormal do nível da água do mar durante uma tempestade, medido como a altura da água acima da maré astronómica normal prevista], de vermelho - logo abaixo do nível mais elevado, o preto, e que chegou a ser dado como moderadamente provável - para azul, o mais baixo, tendo este sido cancelado às 19 horas.
A esta hora, o Ragasa estava já a cerca de 210 quilómetros de Macau, e a mover-se para oeste de Guandong, já com a intensidade de tufão, dois níveis abaixo de supertufão, a força mais elevada das tempestades tropicais, com que se aproximou do território, de acordo com a DSMG.
Com o anúncio do nível 3 de tufão, previsto para as 21 horas, os transportes públicos voltarão a funcionar, assim como serão reabertas as quatro pontes que ligam a península de Macau à Taipa e à Ponte de Lótus, e ainda os vários postos fronteiriços do território.
E como os tufões são fenómenos meteorológicos recorrentes no sudeste da China e em Taiwan durante o verão e o outono, quando as águas quentes do Oceano Pacífico levam à formação de ciclones, passado o Ragasa, sem sobressaltos de maior, já se aproxima o Bualoi.
Ainda se encontra a 2360 quilómetros a sueste de Macau, mas não tarda está aí, se mantiver a trajetória prevista no portal eletrónico da DSMG.
O Bualoi subiu hoje de intensidade, de depressão tropical para ciclone tropical, e poderá afetar o território no próximo dia 29. Por enquanto anuncia-se bastante mais pequeno do que o maior tufão do ano no planeta até agora, o Ragasa, e desloca-se a 15 quilómetros por hora, com ventos no centro à velocidade de 70 kms/h.
Se mantiver a trajetória, deverá passar entre os 100 e os 200 quilómetros a sudoeste de Macau, para logo a seguir atingir terra. Se os tapumes nas zonas baixas da cidade não fossem obrigatórios, talvez ainda devolvesse alguns dos peixes escapados hoje dos viveiros do porto interior.