Buraka Som Sistema e Carlão foram a sensação do terceiro dia de Sudoeste, marcado pela presença da música portuguesa. Ana Moura e Sara Tavares foram convidadas de honra numa noite que juntou 38 mil pessoas na Herdade da Casa Branca.
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Os Buraka Som Sistema já não atuavam no festival Sudoeste há seis anos. No regresso, trouxeram os seus trunfos: a mestre-de-cerimónias Blaya e as suas danças incendiárias, Kalaf e também um monte de vuvuzelas para o público fazer "muito barulho". A audiência, enlouquecida, dançou agachada ao som de êxitos como "Kalemba (Wegue Wegue)" ou "(We stay) up all night".
Pelo meio uma desconexa, mas interessante, aparição de Ana Moura que, como convidada especial, cantou um fado, com uma saia celeste, de sereia. Assim como apareceu, desapareceu. E o público continuou a dar a sua performance coreográfica.
Após ter passado pela Herdade da Casa Branca com os Da Weasel e, no ano passado, com os 5-30, Carlão apresentou-se agora em nome próprio para dar a conhecer o seu disco a solo, "Quarenta", editado este ano. Na manga do fato de "gentleman" com que subiu ao palco estava um quarteto de cordas feminino, Dino D'Santiago e Sara Tavares, além dos fiéis companheiros de estrada DJ Glue, Gil Pulido, nas teclas, e MC Bruno Ribeiro.
As palavras de ordem que servem de introdução ao disco foram as primeiras a ser debitadas, antes de surgir "Entre o Céu e a Terra" e "Nuvens", com Dino D'Santiago a ser recebido com um abraço fraterno. O quarteto de cordas confere solenidade às canções e encaixa-se de forma simbiótica com os temas, fazendo-nos esquecer que este é um momento exclusivo para o festival.
"Comité Central" chega antecedida de uma confissão de Carlão sobre a adolescência e de um scratch de DJ Glue, que voltaria a ter tempo para brilhar ao longo de todo o concerto em interlúdios estratégicos. Num festival onde a eletrónica tem sido rainha, Carlão não deixou de mandar uma ferroada nos "DJ da pen", em contraponto com scratch "old school" praticado pelo antigo comparsa dos Da Weasel.
Se as letras de "Quarenta" refletem o espírito crítico de Carlão, em palco as palavras são lançadas em tom contestatário contra o esquecimento: "Se eu falar de BES, GES, Sócrates, têm alguma coisa a dizer? E do BPN, vocês lembram-se do BPN?" A reação do público começa morna - ou não estivéssemos entre um plateia maioritariamente adolescente -, aquece e abre a porta a "Colarinho Branco".
"Bla Bla Bla" surge num dueto intimista com Sara Tavares e "Krioula" dá direito a um Carlão ajoelhado frente a uma "crioula rainha". O público ainda não domina as letras do novo disco, mas "Chegou a hora" ou "Vício", do repertório de 5-30, lançam a chama ideal para uma despedida ao som do êxito maior de "Quarenta": "Os Tais". Aqui todos cantam, todos dançam, de olhos vidrados na sensualidade do casal saído diretamente do teledisco para o palco nobre do festival.
A terceira noite do Meo Sudoeste inaugurou com DJ No Expression, também ele com muito pouca expressão junto do público neste dia prejudicado pelo mau tempo.
Em contrapartida, Jimmy P. parece ter sido beneficiado pelo mau tempo e ele mesmo o agradeceu, por diversas vezes aos presentes. "Não contava ter tanta gente aqui para me ver no Sudoeste", confessou. Mas houve muito quem o quisesse ver. E para muitos Jimmy P. não era uma novidade pois sabiam as músicas e cantaram entusiasmados temas como "On fire" ou "Storytellers" e outros temas dos seus dois álbuns.
Carolina Deslandes atuou na hora de jantar e, apesar da popularidade que goza o seu "single top" das rádios nacionais, havia apenas poucas centenas de pessoas para ver o seu concerto. O seu esforço parecia debalde.
Agir, em contrapartida teve uma legião de fãs à sua espera, a abanar com temas como "Deixa-te de merdas", a provocar beijos apaixonados entre casais. A pedirem o tema "Eu quero" ou a entoarem o refrão de "Toda a gente" com um coro: "Olha a tua baby, olha a tua amiga não é por acaso que ela já não te liga".
No palco principal a performance do coletivo britânico Clean Bandit, parecia datada. Quando as suas violinistas e violoncelistas não são as protagonistas, fazem lembrar sonoridades antigas de bandas como os extintos "Ace of Base" ou "Everything but the girl".
Para fechar a noite, no palco principal, atuaram os DJ holandeses W&W. O coletivo que existe desde 2007 e que já tocou em festivais como o Tomorrowland, pôs 38 mil pessoas a dançar no recinto. O duo de música eletrónica foi, talvez, o mais pesado até agora no Sudoeste.
Não deixaram de trazer êxitos como "Lean on" de Major Lazer, ou remisturas de Calvin Harris. E ainda algumas brincadeiras com músicas infantis como "If you"re happy and you know it clap your hands" e o público obediente assim o fez, até de madrugada.