Fantasporto celebra aniversário especial com 77 sessões de cinema entre esta terça-feira e 8 de março no Teatro Rivoli.
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Às vezes, começa tudo com uma conversa de café. É o caso do Fantasporto - Festival Internacional de Cinema do Porto, que celebra este ano a 40.ª edição e foi idealizado à mesa do antigo Café Luso, na Praça Carlos Alberto, em finais de 1980, por dois jovens cinéfilos, Mário Dorminsky e Beatriz Pacheco Pereira, e um pintor com dificuldade em expor o seu trabalho, José Manuel Pereira.
O cartaz do primeiro Fantasporto, surgido poucos meses depois, ainda sem formato competitivo, é ainda hoje um paraíso cinéfilo, uma referência que se apoiou no género então galopante do cinema fantástico, mas que logo ali o transcendeu pelo alcance das obras apresentadas: "O testamento de Orfeu", de Cocteau; "Os pássaros", de Hitchcock; "Solaris", de Tarkovsky; "A hora do lobo", de Bergman; "O gabinete do dr. Caligari", de Wiene, ou "Aquele inverno em Veneza", de Roeg. Uma antologia para qualquer época e contexto.
Pelo festival que conquistou a Medalha de Mérito Cultural da Câmara do Porto em 1996, e importantes distinções em Espanha, Brasil e Coreia do Sul, passaram em concurso as primeiras obras de realizadores que se imortalizaram nas décadas seguintes, com Palmas, Leões e Oscars: Peter Jackson, Kathryn Bigelow, Guillermo del Toro, Alejandro Iñarritu, Danny Boyle, Quentin Tarantino, David Fincher, Michael Haneke ou Bong Joon-ho, vencedor das categorias de Melhor Filme e Melhor Realização na última cerimónia da Academia por "Parasitas", e que concorreu no Fantas, em 2006, com "The host".
Centenas de convidados passaram pelo Porto nos últimos 40 anos, entre realizadores, atores e produtores, alguns para receberem prémios de carreira, como Wim Wenders, Paul Shrader, John Hurt, Ben Kingsley, Rosanna Arquette, Karen Black ou Max Von Sydow.
Os quatro escolhidos
Este ano, vão estar presentes representantes de 70% dos filmes exibidos, de países como Canadá, Suécia, Filipinas, Uzbequistão, Taiwan ou Egipto. E é tarefa ingrata para quem escolhe os filmes destacar apenas alguns, mas como lembrou a responsável por essa escolha, Beatriz Pacheco Pereira, é também "uma pena que as pessoas não vejam os imperdíveis". Nesta edição, que volta a apresentar quatro secções competitivas, e em que a atualidade, "o verdadeiro terror", nas palavras de Dorminsky, será explorada pela via da "fantasia" e do "realismo", há quatro filmes a que não se pode escapar.
"Bring me home", do sul-coreano Seung-Woo Kim, trata do mundo sórdido da exploração do trabalho infantil e é exibido dia 29; "Detention" vem de Taiwan, pela lente de John Hsu, e dá conta dos mecanismos de repressão do regime comunista chinês, sendo projetado dia 5 de março; "Fallen", também da Coreia do Sul, é realizado por Lee Jung-Sub e conta a história de uma escritora raptada, criando um jogo permanente com o espectador, que não sabe como posicionar-se (1 de março); e "Omar and us", dos turcos Mehmet Bahadir Er e Maryna Gorbach, aborda as travessias trágicas do Mediterrâneo, contando com dois refugiados sírios como protagonistas (4 de março).
Imperdível é também a sessão comemorativa dos 40 anos de "O touro enraivecido", de Coppola, que será exibido depois de amanhã no Rivoli.