Calvin Harris foi o espetáculo que arrastou a maior legião de fãs no Meo Sudoeste, levando ao delírio as 40 mil pessoas que se encontravam na Herdade da Casa Branca, na Zambujeira do Mar. Esta sexta-feira, as atenções estarão concentradas nos portugueses Carlão e Buraka Som Sistema.
Corpo do artigo
O DJ e produtor escocês Calvin Harris fez jus ao estatuto de que goza na cena da música eletrónica e ofereceu à multidão à sua frente sucessos como "Lean on", de Major Lazer, "Feel so close", "Spectrum", de Florence and the Machine, ou "Outside", de Ellie Goulding. Fumos, confettis e descargas de luzes e laseres sobre o multidão ampliaram o transe coletivo, transformando o Sudoeste numa gigantesca discoteca ao ar livre.
Como um doce contra a vida amarga chegaram os D.A.M.A. Havia famílias felizes a assistir ao concerto, muitas crianças que sabiam êxitos como "Às vezes", "Luísa" e "Não dá" de cor e cantavam as letras, numa contagiante alegria. Para delírio dos fãs, trouxeram convidados como Virgul, antigo membro dos Da Weasel, e Salvador Seixas. E deixaram recados a quem os quis ouvir:" Os Da Weasel fazem muita falta à música portuguesa". No final, trouxeram o Saint Dominic"s Gospel Choir e balões gigantes que adocicaram ainda mais o ar.
Encaixado entre os D.A.M.A. e os C2C, Diogo Piçarra gritava ao vento "eu sei que não sou perfeito", mas a sua prestação no palco Santa Casa ficou quase perdida. Ainda assim cantou alguns dos seus êxitos para o público que ali esteve para o ver, mais do que para o ouvir, já que o som do palco Meo era bastante mais forte. Do mesmo fenómeno sofreu o coletivo algarvio Átoa, estreantes na Herdade da Casa Branca.
Os quatro DJ franceses C2C fizeram uma entretida batalha de scratch antes de subir ao palco Emeli Sandé. A poderosa voz da cantora escocesa entrou em força com "Heaven" e "Highs and lows" e o maravilhoso coro, cheio de swing no corpo e soul na voz, deixou o público rendido com temas como "Wonder" ou "What I did for love". A apoteose chegou com "Read all about it".
A segunda noite abriu com o concerto de Dengaz, que agradeceu às poucas centenas que às 20 horas já se encontravam em frente ao palco principal. "Obrigada, pessoal, por terem vindo mais cedo da praia para estarem aqui", atirou, quando os últimos raios de sol pintavam o céu de violeta na Herdade da Casa Branca. Acendiam-se as primeiras luzes e erguia-se uma cidade-cenário feita de néones. O sol era uma gigantesca montanha-russa de luzes fluorescentes rosa e verde.
Grupos de pessoas saltavam no jumping e os gritos de adrenalina, de um lado e do outro, misturavam-se com a música eletrónica que ressoava por todo o recinto. Para trás ficava a lavandaria - que esteve mais de uma hora sem água, deixando os festivaleiros seráficos, com as roupas húmidas sequestradas -, a falta de água potável no recinto e os garrafões que valem quatro euros no supermercado ali montado.
Invasão espanhola no Sudoeste
A organização do Festival Meo Sudoeste ainda não tem números oficiais da quantidade de bilhetes vendidos em Espanha, mas a verdade é que a língua de "nuestros hermanos" ouve-se em todos os cantos do recinto.
Segundo a Música no Coração, que organiza o festival, é difícil de contabilizar quantos espanhóis compraram ingressos para o certame, até porque muitos deles adquiram as entradas em plataformas portuguesas. Ainda que não seja empírico, há uma enchente de espanhóis no Meo Sudoeste. No recinto do campismo, há uma quantidade infinita de bandeiras espanholas penduradas (são sempre zelosos do seu patriotismo, 'nuestros hermanos') e o sibilar de grupos confirma: há uma invasão espanhola no festival.
Vicente Maldonaldo, Diego Mimbre, Laura, Eva Maria Rolin, Juan Aleluia, Francisco Javier e Eva Maria Pedraja estão entretidos a cozinhar duas panelas de massinha para o pequeno-almoço - não o continental, mas o estival. Inclui massa com atum ou salsichas e é servido algures entre as 15 e as 16 horas. Estão com residência fixa no recinto dos campistas desde dia 1 de agosto, tardaram em chegar de Badajoz: três horas em autocarro, a viagem custou 27 euros, ida e volta.
Estão "encantados" com tudo, mas especialmente com a segurança. "A polícia está sempre a passar, é fantástico", dizem. Partem no dia 10, às 12 horas em ponto. Eva Maria, arregala os olhos e explica: "O homem da camioneta disse-nos que às 12 horas acaba a segurança do recinto e temos todos que sair porque aparecem logo bandos que pilham tudo". (Há quem, com as 12 badaladas, se transforme em abóbora, mas no conto do homem da camioneta transformam-se em ladrões.)
Vicente, que recebeu de prenda do 21.º aniversário o bilhete para o festival Meo Sudoeste, teve a sorte de ser um dos que bebeu da vodka do ídolo, Dimitri Vegas. Eva Maria também bebeu, mas não gostou: "Ardia imenso na garganta". Os amigos gracejam: "És uma fraca". Uma fraca que suspira por ver Emeli Sandé e Hardwell.
De Madrid vieram Alejandro Herrera, Jorge Sanz e Gonzalo Azurara que, na quarta-feira, já tiveram um dissabor: "Atirámos um petardo, em Espanha é normal fazer isso nas festas, mas aqui montou-se um aparato tal que veio logo a polícia para nos imobilizar e nós sem percebermos nada do que estava a acontecer".
A história teve um final feliz: "Eles foram corretos connosco, mas agora acabaram-se os petardos", riem-se, nervosinhos. Eles têm 21 anos e pretendem gastar no Festival "cerca de 400 euros". O orçamento parece-lhes barato, porque "ninguém consegue fazer dez dias de férias por este preço", e desse bolo só 150 são para a viagem de carro desde Madrid.
Elena, Ana, e Edu Calatrava estão de plateia num espetáculo de dança no chuveiro, vieram desde Cáceres, "doze horas de Expresso". O bando de 18 amigos chegou no dia 3, recomendados por outros que lhes tinham contado "a maravilhosa experiência que era este festival". A música "não interessa, não é por isso que estamos aqui, mas sim pelos amigos e diversão".
Elena acrescenta: "Também é tanta eletrónica, por favor parem! Ponham algo de rock, este festival, antigamente, era isso!", implora. Os amigos serão mais velhos, porque ela tem a mesma idade do festival, 19 anos. O que mais gostam no Sudoeste é a cozinha, "é fantástico terem aqui uma cozinha", e ainda não assistiram ao showcook do Chef Baeta. O chef está aqui todos os dias, às 12 e às 20 horas.