Visões Úteis apresenta espetáculo com as comunidades ciganas dos bairros do Porto
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“Zha! Laray” (Vamos, viver) é o espetáculo que se apresentou esta quinta e sexta-feira, no Teatro Rivoli, às 19.30 horas. Quantas criações artísticas se fizeram com as comunidades ciganas portuguesas nas últimas décadas, ao abrigo da inclusão social ? Quantas destas mudaram efetivamente a vida de quem nelas participou? Estas perguntas são algumas das que surgem quando se vê uma destas produções. Para quando um espetáculo com ciganos a dirigir não-ciganos ? E que ideias é que seriam passadas pelos ciganos sobre os não-ciganos?
Logo a montante, há uma premissa perigosa, que é a de pensar que os ciganos precisam de um olhar e de uma direção paya (não-cigana) sobre a sua cultura. E depois há uma tendência a uma romantização de que vida cigana é toda passada à volta de uma fogueira a dançar e a cantar flamenco. Esse é outros dos perigos da apropriação, o flamenco não é exclusivamente cigano, é uma amálgama de culturas.
Mas, estas premissas não tiram valor aos resultados finais. Este projeto artístico participativo de longo prazo (2022-2024), apoiado pelo programa Partis & Art for Change foi feito junto das comunidades ciganas residentes nos bairros de Contumil, Cerco e Lagarteiro.
O resultado final, assinado por Inês de Carvalho, com a produção da Visões Úteis, vem muito bem arroupado por uma santa trindade de profissionais: a dupla argentina que assina a direção musical a guitarrista Fernanda de Córdoba e José El Pájaro Ausina, cantaor e a bailaora flamenca Francisca Durão.
As duas figuras femininas são aqui metrónomos dos participantes que, encabeçados por Rui Maia, criam uma entretida atmosfera, por rumbas e por tangos. Mas os grandes momentos são protagonizados pelos profissionais, por guajiras e por seguiryas. O restante, como explica a encenadora, “são momentos de um filme”.
“Zha! Laray!”
Teatro Rivoli (PORTO)
hoje, 19.30 horas